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Celso Sabadin: Documentário Henfil é tristemente atual

Naquela já tradicional “correria de fim de ano”, pouca gente ficou sabendo do lançamento, nos cinemas, do documetntário Henfil, de Angela Zoe, que chegou a poucas salas, no último mês de dezembro. Para quem não viu o longa, Henfil está disponível a partir de hoje (5 de fevereiro), nas plataformas digitais NOW, Vivo Play e Oi Play. A data relembra os 75 anos que o famoso cartunista, humorista, escritor e pensador mineiro completaria.

Por Celso Sabadin, no Facebook

Henfil - Divulgação

O filme não traz exatamente grandes novidades sobre esta personalidade tão importante da vida brasileira. Mas como é bom (re)tomar contato com suas irreverência e inteligência! Principalmente nos tempos atuais, onde a tosqueira de um sórdido pensamento conservador e autoritário parece ter tomado conta da maior parte do país. Como é bom (re)ver o Henfil combatente, inquieto, sarcástico, que utilizava o humor como arma máxima contra as forças idiotizantes da ditadura de sua época. A mesma ditadura que as forças igualmente idiotizantes de hoje tentam dizer que nunca aconteceu.

Ao mesmo tempo em que resgata a vida e o trabalho do artista com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, o longa apresenta seu importantíssimo trabalho para a nova geração. Enquanto um grupo de jovens animadores pesquisa o legado de Henfil para a produção de um curta, antigos filmes em Super 8 resgatam imagens caseiras filmadas pelo próprio personagem ao longo de suas viagens, e que revelam aparições familiares como sua mãe Dona Maria e os irmãos Betinho, Chico Mário e Glorinha. Tudo costurado com depoimentos de amigos como Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral, Tárik de Souza e outros.

Mais que documentar uma pessoa, “Henfil” documenta uma época. Uma triste época de truculência e resistência que, infelizmente, parece agora mais viva do que nunca.

É marcante a cena que Henfil diz, desolado, ter presenciado a torcida do Flamengo aplaudindo entusiasticamente o ditador Médici, um dos maiores carrascos da ditadura de 1964. Hoje, provavelmente ele estaria ainda mais desolado.