Pedra de toque da resistência

"A cada instante fica mais evidente a absoluta necessidade de organizar uma resistência ampla e plural, constituindo uma larga conjugação de forças na qual caibam todos os democratas, para além das naturais diferenças de concepção".

Por Luciano Siqueira*

(Foto: Reprodução)

Ao ser diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral presidente da República eleito, o capitão Bolsonaro declarou que nos dias que correm, com a ferramenta das redes sociais, a democracia representativa dispensa intermediários.

Em sua argumentação tosca, pretendeu dizer que entre o principal mandatário da nação e o povo, a partir de agora estariam dispensados as instituições da República, o Parlamento em particular, partidos, organizações representativas dos diversos segmentos sociais, instituições democráticas e, talvez, os meios de comunicação convencionais.

Na melhor tradição direitista do complexo de vira-lata, uma tentativa de macaquear o presidente Trump, dos EUA.

Tal concepção, sustentada por alguém que recebeu 1/3 dos votos dos eleitores e assim, por maioria de 10 milhões de votos contra seu oponente, foi alçado à condição de presidente da República é algo mais do que estranho, ameaçador.

Não será possível, sobretudo num país da dimensão e da complexidade do Brasil, governar sem diálogo e sem suportar a crítica e o contencioso.

Quando em campanha, o capitão-presidente foi explícito em mais de uma oportunidade ao declarar guerra ao MST e demais movimentos sociais e expressar sua intenção de “banir” para fora do país todos aqueles que venham a ser identificados com pensamento à esquerda.

Mais uma vez, portanto, a nação se vê confirmada diante da perspectiva de um período marcado pela truculência, pela tentativa de impor, a todo custo, um pensamento auto-proclamado único e impositivo.

Certamente aí está o ponto de convergência (ou, dito de outro modo, a pedra de toque) da resistência democrática.

A cada instante fica mais evidente a absoluta necessidade de organizar uma resistência ampla e plural, constituindo uma larga conjugação de forças na qual caibam todos os democratas, para além das naturais diferenças de concepção.

Ironicamente, com a declaração no TSE o atabalhoado futuro presidente, a seu modo, oferece o mote para a união de todos os que a ele se opõem.