PIB de 0,8% prejudica sobretudo os trabalhadores

Crescimento pífio da economia tem influência direita no emprego

O crescimento de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, na comparação com os três meses anteriores, é uma péssima notícia, especialmente para os trabalhadores. A avaliação é do diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, para a Rádio Brasil Atual. Segundo ele, a retomada econômica do Brasil vem acontecendo a passos mais lentos que em outros períodos de queda. “Considerando o período da crise de 1981–1983 (fim da ditadura militar), a velocidade de saída da crise foi três vezes maior do que a observada neste momento”, afirma.

Os resultados aquém do esperado, aviou Clemente Ganz Lúcio, estão atrelados em parte ao baixo investimento público e privado, ao desemprego, à capacidade do mercado interno em sustentar o consumo e ao endividamento das famílias brasileiras. Para o próximo ano, ele prevê que, apesar da expectativa por um desempenho melhor da economia, a repercussão sobre o emprego ainda deve ser baixa. “Nós teremos em 2019 e 2020, provavelmente, uma economia que vai estar no mesmo tamanho da de 2014”, afirmou.

Um dos problemas na área de emprego é que o número de trabalhadores no setor privado com carteira assinada não se recupera. No trimestre encerrado em outubro, cresceram apenas os números de empregados sem carteira assinada e de trabalhadores por conta própria. O resultado é que o rendimento médio real habitual (R$ 2.230) ficou estável em relação a 2017, assim como a massa de rendimento real habitual (R$ 202 bilhões).

Esse cenário deve se agravar, do ponto de vista social, com os efeitos da “reforma” trabalhista, com a lógica de que é preciso enfraquecer o trabalho para atrair o capital. A primeira versão desse filme ainda é recente, exibido no reinado da “era” neoliberal, quando houve uma ofensiva contra os direitos do trabalhadores, fazendo do Brasil um dos recordistas mundiais de desregulamentação trabalhista. Essa tendência, a rigor, vem do regime militar.

Quando os golpistas tomaram posse do país, uma das primeiras medidas adotadas foi a de pôr um ponto final nas "reformas de base" e alterar radicalmente as relações entre capital e trabalho. Além da violência aberta contra os trabalhadores, a ditadura militar operou mudanças profundas na legislação trabalhista por meio de decretos leis e atos institucionais.

Semelhança

O corte rompeu uma linha que vinha se condensando desde o início dos anos 1950, quando o segundo governo do presidente Getúlio Vargas definiu claramente duas estratégias para o país — o desenvolvimento independente, com distribuição de renda, e a dependência de capitais estrangeiros, que satisfaziam os monopólios brasileiros. Essa dubiedade marcou os governos seguintes e se rompeu com o golpe de 1964, depois de a balança começar a pender para o lado das forças nacionalistas e populares no início daquela década.

A ideia dos que passaram a comandar esse modelo é a mesma, em essência, que vigora hoje. Mário Henrique Simonsen e Roberto Campos, os mais destacados formuladores daquela política econômica, publicaram, em 1974, um livro chamado A Nova economia brasileira no qual disseram que os objetivos básicos dos golpistas eram o combate à inflação, o reequilíbrio do balanço de pagamentos e a criação de bases sobre as quais deveria ocorrer o desenvolvimento de longo prazo.

Qualquer semelhança com a atual política econômica não é mera coincidência. É que o pano de fundo do problema tem a mesma coloração liberal. E um dos pré-requisitos para esse modelo é o de garantir força de trabalho barata — incluindo nesse conceito, além do achatamento salarial, o enfraquecimento dos sindicatos e a "flexibilização" das leis trabalhistas.