Brasil abandona candidatura para sediar Convenção do Clima em 2019

Em comunicado enviado ontem (27) à Organização das Nações Unidas (ONU), o governo brasileiro alega que por “restrições fiscais e orçamentárias, que deverão continuar”, deixa a disputa para que a Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-25) seja realizada no país.


Brasil abandona candidatura para sediar Convenção do Clima em 2019 - Reprodução da internet

A COP-25 é o principal fórum de negociação entre as nações sobre a implementação do Acordo de Paris. Considerada estratégica para impulsionar a economia brasileira de baixo carbono, a reserva de orçamento para a COP do Clima beneficiaria, sobretudo, setores da agricultura e de energias renováveis.

O Itamaraty assinala que a decisão foi comunicada ao Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O texto enviado às Nações Unidas afirma ainda, diante do alinhamento do ultraliberal Jair Bolsonaro com o governo Michel Temer, que o ajuste fiscal deverá permanecer em 2019.

“Tendo em vista as atuais restrições fiscais e orçamentárias, que deverão permanecer no futuro próximo, e o processo de transição para a recém-eleita administração, a ser iniciada em 1º de janeiro de 2019, o governo brasileiro viu-se obrigado a retirar sua oferta de sediar a COP 25", explica a diplomacia do Brasil.

A desistência sinaliza os rumos do próximo governo que assumirá o país em janeiro. Em agosto deste ano, Bolsonaro disse que caso fosse eleito presidente o Brasil sairia da ONU. A declaração foi agravada com críticas ao Conselho de Direitos Humanos da organização. “Não serve pra nada esta instituição“. “É uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul, pelo menos“, disparou o então candidato à presidência da República.

Confessadamente contra o Acordo de Paris e a participação do país em organismos multilaterais, o diplomata Ernesto Araújo, que será ministro das Relações Exteriores, já chegou a dizer que as mudanças climáticas não passam de “dogma marxista” e que o aquecimento global é “alarmismo climático”.

Referência internacional pelo engajamento no combate ao desmatamento da Amazônia, o Brasil é menos dependente de combustíveis fósseis que outros países. Uma das mais importantes organizações internacionais de defesa do meio ambiente, a WWF lamenta a desistência.

“O país tem tido destaque nas negociações internacionais de clima, exercendo um importante papel na diplomacia rumo a uma maior redução de gases de efeito estufa”, destaca em nota.
De acordo com o diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, "a participação do Brasil é vital para atingir as metas mundiais" na regulação do clima mundial.

Atualmente o país é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa, sendo fundamental sua atuação.