Contee debate necessidade organizativa para enfrentar futuro sindical 

A primeira reunião do Conselho Sindical da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Ensino (Contee), após as eleições de outubro, discutiu os próximos passos em relação aos ataques à categoria deferidos pelas medidas do governo de Michel Temer, como a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita. Agora, a preocupação da entidade é com o futuro governo de Jair Bolsonaro que pretende ampliar ainda mais o quadro de retrocessos. 

Reunião da Contee - Foto: Leandro Freire/TREEMIDIA

A 20ª reunião do Conselho Sindical da Contee ocorreu em Brasilía-DF, entre quinta-feira (22) e sábado (24), e contou com a participação de 126 delegados e delegadas de 40 entidades filiadas presentes, sendo sete federações e 33 sindicatos de todas as regiões do Brasil. Na ocasião foi lançado o Congresso extraordinário da entidade que deve ocorrer em março de 2019.

O coordenador-geral da Contee, Gilson Reis abriu a reunião falando sobre a derrota dos trabalhadores na última eleição. "Estamos conscientes de nossa derrota nas eleições presidenciais para o candidato da ultradireita, Jair Bolsonaro, mas com a convicção de que a luta continua, com unidade, mobilização, enfrentamento e construção de nosso futuro. A Contee é um dos principais instrumentos que temos para as batalhas que se avizinham”.

Segundo o professor, para tentar barrar os atrasos, é necessário traçar as perspectivas e os caminhos do movimento sindical. “Uma questão da qual temos clareza é de que nunca foi tão necessário o fortalecimento e a ampliação do trabalho da Contee. A Contee passa a ser não só uma necessidade política, como já é historicamente, mas uma necessidade organizativa para enfrentar esse conjunto de dificuldades, para organizar de forma coletiva nossa ação política.”

“Se o capital pensa na perspectiva de flexibilizar mais, fragmentar mais, fazer com que as relações se tornem individualizadas, temos que fazer o contrário”, ponderou Reis.

“A educação e a cultura serão muito atacadas no próximo governo e por isso devemos levar ao Fórum Nacional em Defesa da Educação (FNDE) uma proposta de campanha e movimento nacional permanente em defesa desse tema. Vamos combater a Lei da Mordaça nos campos social, político e jurídico, inclusive em ações conjuntas com os governadores, prefeitos e parlamentares contrários a essa lei. Vamos também combater a reforma da previdência, que ataca direitos dos trabalhadores. A Contee deve participar da formação frente ampla nacional em defesa da democracia e contra o fascismo.

Presente na reunião, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, disse que “os problemas sindicais não estão desassociados dos desafios da conjuntura internacional e nacional. No final de 2014 tínhamos uma das taxas mais altas de emprego do planeta, mas com o golpe de 2016 começou a restauração da política neoliberal e a destruição da legislação trabalhista”.

Segundo Adilson, “no mundo existe atualmente mais de 200 milhões de desempregados, mas o emprego não acabou. Estamos na mais longeva crise do capitalismo mundial. Um mundo decadente, em crise, sem perspectiva. Grande parte do que os brasileiros construíram em um cem anos está sendo destruído nos últimos cinco! O golpe de 2016 foi institucionalizado pelo voto em Bolsonaro. O movimento sindical terá qiue se reconstruir com novas bases para dar as respostas necessárias aos desafios que se apresentam. Sigamos com a luta, porque a esperança é revolucionária!”

O secretário de Comunicação da CUT, Roni Anderson Barbosa, lembrou da semana que antecedeu o primeiro turno das eleições e o crescimento surpreendente de Bolsonaro nos últimos sete dias, mesmo após o movimento #EleNão. “Perdemos a guerra nas redes nesta campanha. O trabalho na rua foi bonito e cresceu muito na reta final, mas talvez tenha chegado tarde.”

O dirigente destacou ainda o enorme nvestimento da campanha bolsonarista em compartilhar Fake News pelo WhatsApp. As fake news, segundo Roni, continuam e continuarão fortes, assim como os ataques aos direitos dos trabalhadores, “muito maiores que os ataques que Temer está fazendo”.

Roni citou o processo de preparação para privatização das empresas estatais e demissão em massa dos funcionários, sem justificativa, e a adoção da carteira de trabalho verde-amarela, que significa, conforme Barbosa, a exclusão completa dos sindicatos da relação capital-trabalho.

“Provavelmente ela virá atrelada ao novo modelo previdenciário que querem implementar”, observou. A resposta a isso, como destacado por ele, é a unidade das centrais sindicais na luta pelos direitos trabalhistas, previdenciários, sindicais.

Congresso 

Os participantes aprovaram a indicação que o 10º Congresso Nacional da Contee se realize em março do ano que vem, em data e local ainda a ser definidos. “Este Consind aprofundou a discussão sobre a conjuntura política, econômica e social que estamos vivemos e que se anuncia com a posse do presidente de ultra direita, Jair Bolsonaro, em 1º de janeiro, e consagrou o lema com que foi convocado – ‘Unidade, Organização e Resistência’. Vamos resistir e retomar a construção do estado democrático e com justiça social. A Contee é fundamental para essa luta”, considerou o coordenador-geral.

Ao fim do encontro foi lançado manifesto em repúdio à indicação do colombiano conservador, Ricardo Vélez para ministro da Educação do Brasil.