Lideranças políticas e sociais debatem desafios para o próximo período

Os desafios políticos para o próximo período foi o tema central discutido por lideranças políticas e sociais do PT, PCdoB e Psol que participaram na manhã desta sexta-feira (23), na Escola Nacional Florestan Fernandes, na região de Guararema, em São Paulo, de um encontro promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Lideranças se reúnem com MST - Foto: Luara Dal Chiavon

O evento reuniu dezenas de parlamentares e militantes sociais que se convergiram em torno da construção e fortalecimento de uma frente democrática em defesa dos movimentos populares, dos direitos da classe trabalhadora, dos direitos humanos, em resistência ao governo de extrema direita eleito no Brasil. A defesa da democracia, a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a retomada do Estado Democrático de Direito, também foram temas levantados no debate.

Sobre o resultado das últimas eleições, a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, eleita vice-governadora de Pernambuco, ressaltou o contexto internacional em que Jair Bolsonaro foi eleito no Brasil.

“Não devemos subestimar a capacidade das fake news, vimos não só no Brasil, como em todo mundo o que noticias falsas espalhadas em massa podem causar. Bolsonaro encarnou o anti-sistema, mas ele está há 35 anos na vida política, são décadas atuando dentro desse sistema. Além disso, a onda que Bolsonaro surfa é mundial, ela se deu em um cenário de crescimento da extrema direita.

Para ela, a crise estrutural do capitalismo foi o que motivou o bloqueio do avanço da civilização no país. "É a crise do capitalismo que produz a crise civilizatória. Nossa tarefa é ampliar a oposição para fazer frente a essa nova ordem que está colocada”, disse.

Na mesma linha, o presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, falou sobre a importância de aglutinação da esquerda e das contradições do novo governo. “O processo dialético de fala e escuta vai ser decisivo para organizar a resistência. O fenômeno do populismo de extrema direita que está presente em grande parte do mundo, chegou aos países do hemisfério sul. Bolsonaro é o retrato desse período. Ele não terá problemas em compor com os piores quadros da velha política, vide suas indicações de ministério (…). Uma agenda ultraliberal agressiva, privatista e o fortalecimento do punitivismo penal é o que nos espera. Por isso, a construção imediata de uma ampla frente politica que defenda a democracia, as liberdades e as instituições da classe trabalhadora deve ser a nossa meta e desafio daqui em diante".

A presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, citou o caminho do golpe para falar sobre o próximo governo. “O impedimento de Lula, contestado inclusive pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), foi a legitimação do golpe que começou em 2015 com o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Depois disso, vieram as fake news e o PT acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo menos quatro vezes questionando as ferramentas utilizadas nessas eleições. Nesse bojo, o governo Bolsonaro foi eleito com a promessa de romper com a política tradicional, criar segurança para população e acabar com a corrupção. Como ele vai fazer isso? Não sabemos porque que ele não debateu plano econômico nem social. O projeto de privatização, por exemplo, não foi sequer discutido com a população”.

Para ela, a luta pela liberdade de Lula é uma meta estratégica para o próximo período. “Devemos lembrar que em 500 anos o único soluço de melhora que a população pobre brasileira teve foi nos últimos 13 anos. O ex-presidente é o nosso elo com o povo. Sua liberdade vai além de uma questão de justiça e essa luta vai estar presente em todos os momento do PT no próximo período. E completa: "Devemos estar atentos. A luta pela democracia é entendida de maneiras diferentes nos setores da sociedade. Nós representamos a oposição. Uma oposição de 47 milhões de pessoas que disseram não ao governo Bolsonaro. E nessa oposição todos são importantes e necessários”, conclui.

Da direção nacional do MST, João Pedro Stedile, criticou a enorme desigualdade econômica e social do Brasil. “É impossível existir igualdade em um país em que seis pessoas detêm o equivalente à riqueza de 100 milhões de brasileiros”, afirmou.

Ao falar sobre o papel do povo na luta contra a retirada de direitos e o aumento da desigualdade no país, Stedile citou a solidariedade como uma das principais ferramentas de luta e mobilização. “Precisamos da hegemonia da classe trabalhadora. A mística do povo é a solidariedade e isso ninguém pode nos tirar. Só a solidariedade poderá resolver os problemas da nossa sociedade e construir novos paradigmas. Esse deverá ser também o papel da esquerda, construir uma nova estratégia de condução política e a via eleitoral já não é suficiente para isso. A Frente Brasil Popular é prova disso e tem sido uma importante ferramenta de luta e aglutinação”.

Segundo sua análise, o novo governo já nasce da contradição. “Um ministro da economia [Paulo Guedes], que quer privatizar as 149 estatais do país, representa a entrega do capital brasileiro construído em décadas. Com toda essa privatização o país arrecadaria cerca de 150 bilhões de reais, acontece que só de juros da dívida externa pagamos em 2017 o equivalente a 400 bilhões”, explicou.

Ainda sobre as bandeiras do próximo período Stedile citou a liberdade do ex-presidente Lula como objetivo central para a manutenção da democracia. “Queiramos ou não, Lula é o maior líder popular dos últimos 50 anos. Sua prisão é também o cárcere da classe trabalhadora. Lula é o único capaz de recolocar o povo como protagonista da luta de classes”.

O dirigente social destacou o valoroso trabalho da militância e que a luta do movimento social deve ser de muita resistência. "O MST nasceu no meio da ditadura militar, não vivemos de recursos públicos, de cargos e nem de benesses. Para quem parou é hora de retomar o trabalho de base e, para quem nunca deixou essa importante ferramenta de luta de lado, é o momento de intensificar e aglutinar o povo para que ele, consciente de sua própria realidade, lute".