Manuela: 'O rumo que temos que manter é de muita unidade popular'

Em entrevista ao jornal O Globo, a deputada gaúcha Manuela D'Ávila (PCdoB), fez um balanço da campanha que fez como vice do petista Fernando Haddad, candidato a presidente. Segundo ela, a campanha conseguiu estabelecer uma forte conexão com as ruas na reta final da corrida ao Planalto. Ela também voltou a reafirmar a necessidade de uma frente ampla para enfrentar

Manuela Convenção - Richard Silva/PCdoB na Câmara

"Foi um processo cheio de particularidades. Teve um desfecho de uma mobilização social muito impressionante, muito bonita. O engajamento de pessoas sem nenhum partido, que nunca tinham se engajado, em defesa de causas muito valiosas, como a democracia e a liberdade", disse Manuela.

Para ela, o rumo do campo progressista já foi estabelecido pelo segundo turno das eleições. "A reta final do segundo turno já corrigiu o nosso rumo. É esse o rumo que temos que manter. De muita unidade popular, de uma militância na rua, ouvindo as pessoas, conversando. O movimento de virada de votos foi isso. Um movimento de humildade, de ir, de ouvir, de estabelecer laços, de ser mais compreensivo, de ouvir sobre os equívocos. A reta final para mim é a nossa nova posição", enfatizou.

Manuela lembrou que em novembro do ano passado, quando foi lançada a sua pré-candidatura a presidente, o PCdoB defendia a uma união de esquerda mais ampla. "No final, o desfecho popular foi a construção da unidade que nós não conseguimos fazer nos partidos. Fiz um esforço lá atrás muito grande, dizendo que a unidade não era uma bandeira, que deveria se materializar na prática. E na prática a única que deixou de ser candidata fui eu, o que várias vezes foi criticado de forma machista dizendo que foi um gesto de submissão", salientou.

A deputada considera que a frente ampla nas eleições não se concretizou porque os partidos não avaliaram o "perigo que representava o adversário".

"Vários partidos subestimaram a hipótese de o Bolsonaro ir para o segundo turno. Esse nunca foi o meu caso. Eu, desde 2014, voltei para Porto Alegre muito por causa disso. Já percebia que havia uma mudança no tecido social, e que essa mudança teria impactos no processo eleitoral. Há bastante tempo eu dizia que o Bolsonaro era um candidato bastante forte. Quando tu faz essa avaliação, é mais fácil tirar as consequências dela. Se tu acha que esse cenário não é o mais provável, é mais fácil cometer o erro de lançar candidatura e achar que a unidade não é algo tão importante" analisou.

Segundo ela, o forte esquema de difusão de mensagens falsas pela internet e o incremento do uso do WhatsApp foram mecanismo da minaram a campanha do campo progressista.

"Foi um erro não imaginar que esse mecanismo teria um impacto tão intenso na sociedade", disse, destacando que a rejeição de Haddad nas pesquisas cresceu em função de uma campanha difamatória nas redes sociais. "A TV contou tão pouco que nosso adversário não teve a hombridade de debater e isso não pesou contra ele. Atribuo a rejeição às mentiras bárbaras que foram pregadas. Às vezes tenho a impressão de que as pessoas não têm noção da amplificação que tem uma mentira na internet: 70 perfis que publicaram notícias falsas sobre mim foram compartilhados 300 mil vezes e somam 13 milhões de visualizações. A gente está falando de uma audiência gigantesca", denunciou.

Manuela também rebateu a tese de que Ciro tenha contribuído para a derrota de Haddad por não ter participado da campanha no segundo turno. "O Ciro teve uma participação brilhante no primeiro turno e ele foi quem viabilizou também, com seu elevado percentual de votos, o segundo turno. Ciro não contribuiu para nossa derrota. Ele contribuiu para a existência do segundo turno com a campanha que fez até o último dia em alta intensidade. Ele cometeu um equívoco em não se envolver no segundo turno", ponderou.

Na entrevista, Manuela falou sobre como foi fazer campanha tendo uma filha bebê. "Quando comecei a fazer a minha pré-campanha, a Laura ainda era amamentada e eu não sabia como ia ser, e tinha que levá-la comigo. E muitos questionavam: como assim, ela vai com a criança? Tenho uma filha de dois anos, e não aceito mudar como a educo. Foi algo que, no início, era uma imposição minha, em função da necessidade. E teve uma transformação", contou.

E acrescenta: "E talvez tenha sido o que de mais importante fiz nesse processo eleitoral: mostrar que as mulheres que são mães podem ocupar os espaços públicos. Porque os espaços públicos nos são tirados quando somos mães de crianças".

Ao ser questionada sobre o que espera do governo Bolsonaro, a deputada gaúcha disse que torce "profundamente que ele cumpra, e que zelemos todos juntos, pelo texto da Constituição, que é o uniu o povo brasileiro depois de anos muito difíceis que vivemos".