Bolsonaro cai por arroubo autoritário, dizem diretores do Datafolha

O diretor-geral do Datafolha, Marcos Paulino, e o diretor de Pesquisas, Alessandro Janoni, comentam resultado do último levantamento do instuituto, que mostra redução de seis pontos percentuais entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). Entre os motivos que teriam levado à queda de Bolsonaro, apontam as declarações que explicitam o caráter autoritário do militar da reserva. "A opinião pública o lembra agora que, na democracia, o representante deve prestar contas a seus representados".

Bolsonaro - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Em artigo na Folha de S.Paulo, os diretores do Datafolha destacam que, na última pesquisa, o apoio ao capitão reformado apresenta tendência de queda em quase todos os segmentos socioeconômicos e demográficos. Apesar de cair em maior proporção entre os jovens, o deputado também perdeu eleitores em estratos onde sempre teve desempenho positivo como no Sul, entre os homens, entre os mais escolarizados e especialmente entre os mais ricos.

De acordo com o artigo, tal movimento indica reação da opinião pública a fatos que alcançam diferentes perfis do eleitorado, a exemplo das denúncias de caixa dois na contratação de serviços de WhatsApp pró-Bolsonaro, algo que chegou com mais força ao conhecimento de camadas mais escolarizadas e ricas, antes mais vinculadas ao candidato do PSL.

"As oscilações nesses estratos, no entanto, são insuficientes para gerar movimentos expressivos no total da amostra. Um dos pontos que também pode explicar as mudanças é a nova comunicação de Haddad. A campanha abriu canais com linguagem adaptada a conjuntos de menor renda da classe média (com maior peso na população) ao divulgar, por exemplo, o preço do gás de cozinha que pretende praticar, caso eleito presidente", dizem os diretores.

Outro fator a tirar intenções de votos de Bolsonaro, considerado pelos autores como o principal, são os "episódios que sugerem intervenções autoritárias em instituições nacionais, protagonizados por Bolsonaro, por seu filho Eduardo e aliados acabaram por corroborar a campanha do PT, que o vinha classificando de antidemocrático e violento".

Segundo o Datafolha, os brasileiros nunca valorizaram tanto a democracia como agora. A grande maioria condena as práticas como tortura de suspeitos, censura da imprensa e fechamento do Congresso Nacional.

"Com esse cenário, agressões entre eleitores em discussões políticas, ameaças à presidente do TSE, insinuações de intervenção no STF, estímulo à perseguição tanto de jornalistas como de adversários podem ter minado parte da confiança que o candidato vinha obtendo junto a diferentes setores do eleitorado", defendem Paulino e Janoni.