Especialistas criticam propostas de Bolsonaro para educação

Educadores e especialistas têm se posicionado contra diversas propostas do presidenciável jair Bolsonaro (PSL) para a área da educação. São duramente criticados o ensino à distância desde o fundamental, que vai na contramão dos melhores sistemas de ensino do mundo, e o programa Escola Sem Partido.

Educação/ Sala de aula - MARCOS SANTOS/USP IMAGENS

A proposta de ensino a distância de Bolsonaro é criticada pela pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Gabriela Moriconi e pela diretora da faculdade de educação da Universidad Diego Portales, no Chile, Paula Louzano. “Bolsonaro afirma se inspirar na educação do Japão, mas propõe caminho oposto. Educação a distância desde o ensino fundamental, bandeira de Bolsonaro, não é adotada como política educacional por nenhum dos melhores sistemas de ensino. Para o pleno desenvolvimento das crianças, socialização é essencial”, defendem em artigo.

A proposta de redução de cotas no ensino superior do candidato do PSL também é criticada, assim como uma das principais bandeiras de Bolsonaro para aeducação, a aprovação do projeto que institui o Escola sem Partido.

“O que as evidências internacionais mostram sobre as ideias do programa Escola sem Partido, proposta defendida por Bolsonaro, pode causar erosão da confiança entre alunos e professores e perdas para o aprendizado. Nos EUA, experiências semelhantes não deram certo”, dizem o pós-doutor em sociologia econômica pela Universidade Columbia Charles Kirschbaum e a doutora em economia pela Universidade de Illinois Regina Madalozzo. Ambos são professores do Insper.

Eles apontam os resultados do estudo Unsettled relations: Schools, gay marriage, and educating for sexuality. Educational Theory [Relações não resolvidas: escolas, casamento gay e educação para a sexualidade] que mostram que, em várias experiências ocorridas nos Estados Unidos, a neutralidade exigida aos professores não foi traduzida em uma neutralidade no ensino em si. "Ao contrário: a partir do silêncio obtido e do vácuo criado, os estudantes com opiniões mais fortes prevaleciam com relação à opinião dos mais fracos", dizem.

Segundo eles, é somente através “do confronto aberto de ideias que poderemos exercer nosso direito à própria opinião. Do contrário, estamos sendo doutrinados da mesma forma, mas agora doutrinados para mantermos o que já está estabelecido”.

Também foram analisadas as propostas de inclusão da disciplina de educação moral e cívica nas escolas e a criação de universidades empreendedoras. As duas sugestões são criticadas pelos especialistas ouvidos.