Não pense que a ditadura não é problema seu

Em seu perfil no Facebook, a vereadora de Goiânia Tatiana Lemos relembra fatos ocorridos com a sua família durante a Ditadura Militar. Assustada, narra também uma das últimas declarações de Bolsonaro: “diz que uma pessoa como eu merece ser torturada barbaramente, inclusive as crianças”. A vereadora chama atenção para a semelhança do que ocorreu naquele período sombrio com o ambiente vivido nessa eleição. Além disso, alerta para o fato de que muitas das vítimas do arbítrio não eram de esquerda.

Imagens de publicação de Tatiana Lemos

Confira a íntegra da publicação de Tatiana Lemos:

"Esse é o Ornalino (lado esquerdo na imagem). Ele era lavador de carros, tinha 19 anos e um filho. Um jovem trabalhador que foi assassinado por um único motivo: se parecia com meu pai.
Sabe a criança no colo dos pais na outra foto?
O nome dele é Carlos Alexandre Azevedo.

Ele era um bebé de apenas um ano e oito meses quando foi arrancado de sua casa e torturado na sede do Dops paulista. Foi torturado com pancadas e choques elétricos na frente da mãe, Darcy Andozia Azevedo, para fazê-la falar. Ainda menino, sofria alucinações nas quais ouvia o som dos trens que trafegavam na linha ferroviária atrás da sede do Dops, onde foi torturado. Nunca mais se recuperou. Em 2013, com 39 anos, cometeu suicídio.

Isso é a ditadura. E não pense que não seria problema seu porque você não é de esquerda. Muitos eram torturados para dar informações sobre alguém que eventualmente conheceu, mesmo não tendo nenhuma atuação política. Meu pai, a mãe do bebê e muitos outros foram exilados, presos, torturados e assassinados lutando para que hoje você possa falar o que pensa. Simples assim.

Minha avó foi chamada ao IML pra reconhecer o corpo e logo viu que o Ornalino não era meu pai devido uma cicatriz que ele tem. Eram mesmo muito parecidos.

Nossa família foi dilacerada pela ditadura. Minha tia foi muito, mas muito torturada. Todos os 11 irmãos tiveram sequelas e a vida completamente mudada de forma violenta e definitiva.

Nesta segunda-feira (22), meu sobrinho de 10 anos voltou da escola. Um amigo perguntou se ele era Bolsonaro ou Haddad. Ao dizer que não era Bolsonaro, a outra criança berrou: “Então, eu te odeio!”. A cada dia uma criança aqui em casa é agredida. Todas as cinco crianças daqui de casa estão sofrendo perplexas com tanto ódio.

Eu estou profundamente triste com a situação absurda na qual chegamos. Me sinto naquele filme Titanic quando o navio está afundando e a orquestra continua tocando como se nada estivesse acontecendo. Sinto o mundo louco. As pessoas falando em estuprar, matar umas às outras e tudo parece normal. As crianças sentindo ódio!

O candidato dizendo que seu ídolo é um monstro e que uma pessoa como eu merece ser torturada barbaramente, inclusive as crianças. Não, #EleNão #EleNunca
Sigo firme com o caminho apresentado por Mandela:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.”