Bolsonaro, a volta do exterminador do futuro

No artigo que publicou nesta segunda-feira (15), no jornal “Valor Econômico”, o cientista político Fernando Limongi faz um alerta contra o avanço do fascismo nesta campanha eleitoral: “O Brasil está à beira do abismo, a um passo da queda. Ou Bolsonaro é derrotado ou viramos as Filipinas. O tamanho do desastre não pode ser minimizado.”

Bolsonaro incompetente

Segundo Limongi, o centro e a direita civilizada são vítimas “dos fantasmas que criaram, do bicho-papão que inventaram para assustar a todos. Chamaram o lobo para protegê-los, mas se esqueceram de que nem todas as feras são passíveis de polimento. É como aceitar a proteção da máfia, quando se derem conta, serão as vítimas de seus salvadores.”

O cientista político alerta que a hora da razão está sendo desperdiçada. E dá o exemplo do pronunciamento de João Amoêdo, que foi candidato a presidente pelo partido Novo : "O PT é muito desalinhado com o que o Novo pensa, mas gostaria de ouvir mais do outro candidato. Ele tem algumas ideias na parte econômica, vindo do seu assessor, o Paulo Guedes, que se assemelham ao que defendemos."

E analisa: agentes racionais devem revisar seus juízos a partir das informações que recebem. “O medo do bicho-papão faz com que Amoêdo se esqueça dos ensinamentos básicos” do curso de economia. “Tudo o que Bolsonaro falou e fez está sendo ignorado, ao passo que se deposita confiança em promessas que, levadas em conta as informações disponíveis, não são críveis.”

Limongi relaciona as declarações de Bolsonaro em que não se pode acreditar. Como aquela, numa entrevista à Band, em que Bolsonaro disse que não vai privatizar nada e nem fará a reforma da Previdência. Limongi alerta: “O pior crente é o que quer ser enganado”.

E cita uma declaração, de 18 de abril de 2018, do ideólogo do Novo, o economista Gustavo Franco, que dizia: "E, a julgar pelas pesquisas de agora, o risco da vitória desse populismo nacionalista militarista é ponderável e preocupante. Acho que será péssimo para a economia."

O que mudou? – pergunta Limongi, se “faz tempo, nem o Novo nem ninguém ouve nada de Bolsonaro ou Guedes”, que se escondem no silêncio. “O PSL entendeu que o silêncio recompensa e recomendou a todos os seus seguidores: não falem, pois perderemos votos cada vez que dissermos o que faremos”.

E prossegue na análise. Não é só a economia que conta, diz Limongi. É preciso também saber das propostas para outras áreas, como a educação. Aliás, diz, “custa crer que economistas, que colocaram a educação no centro da agenda do país, calem-se diante das propostas de Bolsonaro para a área”. E indaga: “A baixa produtividade dos trabalhadores brasileiros não seria uma função da má qualidade do ensino? Não precisaríamos de investimentos massivos em capital humano?”

Neste ponto, lembra os “grandes planos” de Bolsonaro: “educação à distância e a volta da cartilha "Caminho Suave", usada durante a ditadura. Optou por essa via porque acredita piamente que a escola é um criadouro de comunistas e homossexuais engajados em uma luta para destruir a família.” Seu “plano genial” fala em melhorar o nível educacional dos brasileiros “retirando crianças da escola”. E pergunta “É assim que se eleva a produtividade do trabalho? É assim que vamos formar cidadãos conscientes?”

“Sim, há algo pior que o PT”, prossegue o articular do Valor. “Muito pior, e quem o diz não são barbudinhos de esquerda, homossexuais ou professorzinhos da USP e sim "The Economist", "Financial Times" e "The Wall Street Journal": o Brasil se prepara para se equiparar às Filipinas.

Limonge se refere a uma nota publicada em “O Estado de S. Paulo” que transcreve o discurso do candidato ao governo do Rio de Janeiro no segundo turno, o direitista Wilson Witzel, durante a destruição da placa com o nome de Marielle: "Marielle foi assassinada. Mais de 60 mil brasileiros morrem todos os anos. Eu vou dar uma notícia para vocês. Esses vagabundos, eles foram na Cinelândia, e à revelia de todo mundo, eles pegaram uma placa da Praça Marechal Floriano, no Rio de Janeiro, e botaram uma placa escrito Rua Marielle Franco. Eu e Daniel [Silveira, deputado direitista] essa semana fomos lá e quebramos a placa. Jair Bolsonaro sofreu um atentado contra a democracia e esses canalhas calaram a boca.” Discurso violento que ampliou as ameaças: “Por isso, a gente vai varrer esses vagabundos. Acabou Psol, acabou PCdoB, acabou essa p*** aqui. Agora é Bolsonaro, p***" – O vídeo está na página do deputado federal eleito Daniel Silveira.

“Bolsonaro é antes de tudo um oportunista. Sua união com Guedes tem tanto valor quanto sua promessa de conceder o décimo-terceiro salário para beneficiários do Bolsa Família. Convenientemente, a carreira política de Bolsonaro, suas ligações com os porões do regime militar, sua oposição à abertura e à democratização do país são desconsiderados. Ninguém se lembra (ou quer ser lembrado) de que Bolsonaro ingressou na vida pública após planejar explodir bombas em quartéis.”

E conclui: “Bem vindo ao admirável mundo do Novo. Congelado nos anos 60, o exterminador do futuro voltou à vida.