Ontem e amanhã: entre a civilização e a barbárie

Repetiu-se na campanha presidencial de 2018 o esvaziamento eleitoral das candidaturas de centro-direita ocorrido em 1989, quando o voto reacionário se concentrou num play boy da oligarquia fantasiado de “caçador de marajás”, que derrotou Lula no segundo turno com o apoio de sórdida campanha de intoxicação promovida pela Rede Globo.

Por João Quartim de Moraes*

jair bolsonaro - Foto: Adriano Machado/Reuters

O voto reacionário concentra-se, desta vez, num aventureiro bem mais perigoso do que F. Collor, porque chefia um raivoso movimento extremista com base de massa, aguerrido nas campanhas anti-Dilma, anti-PT e anti esquerda de 2013-2016.

Chegamos ao primeiro turno numa difícil e perigosa conjuntura eleitoral. Graças à escandalosa farsa judiciária da condenação de Lula na segunda instância (“a jato”, no sentido literal) pelo consórcio golpista da “Lava Jato”, de modo a impossibilitá-lo de disputar uma eleição na qual, de longe, ele era amplo favorito, o candidato fascista passou à frente nas intenções de voto. O “efeito manada” de voto útil em seu nome, provocado na última semana principalmente pela transferência dos sufrágios potenciais do PSDB/DEM, parece ter sido detido. Confirmando-se essa hipótese, o campo democrático terá de cumprir um duplo e indispensável movimento de alcance estratégico: unir-se em torno do candidato que terá chegado ao segundo turno e construir uma plataforma de ampla unidade antifascista em que, preservando o núcleo essencial de seu programa, negocie acordos com os setores da burguesia liberal decididos a barrar ao Profeta da Morte o caminho da presidência.

Do conteúdo essencial do programa democrático fazem parte um plano nacional de desenvolvimento e a revogação das medidas anti sociais e antinacionais do governo Temer (do qual Bolsonaro será, se por desgraça for eleito, um continuador bem piorado).

Domingo 7, à noite, ratificado o segundo turno pelo corpo eleitoral, abre-se uma luta decisiva. Entre as mentiras e imposturas que teremos de combater com a maior energia, está a que apresenta esse embate agônico como disputa entre dois extremismos. Mentira. É mais honesto declarar-se bolsonazista do que esconder atrás do surrado chavão da “equidistância” o que está verdadeiramente em questão: a escolha entre civilização e barbárie em nosso país.