Imprensa internacional alerta para o perigo de eleger Bolsonaro

A imprensa internacional não tem poupado críticas ao candidato Jair Bolsonaro (PSL). De variados espectros políticos, os veículos ao redor do mundo não se enganam e nem omitem: Bolsonaro é uma ameaça à democracia brasileira

Por Alessandra Monterastelli

Bolsonaro mídia internacional

Alguns jornais já vêm repercutindo artigos e matérias críticas a candidatura de Bolsonaro desde o começo do ano. No dia 27 de julho, o alemão Der Spiegel amanheceu com o seguinte título: “Jair Bolsonaro – ascensão de um populista de direita”. O Zeit denunciava a máscara do candidato do PSL, o uso de seu discurso anti-corrupção – que por si só já merece certa desconfiança, após notícias revelarem o aumento de seu patrimônio em 168% desde 2006 e que ele deixou de declarar 2,6 milhões de reais à Justiça Eleitoral – para ganhar votos e enganar seus eleitores: “Um Fascista Se Apresentando Como Homem Honesto”.

O Frankfurter Allgemeine expôs sua preocupação com a democracia brasileira já em novembro de 2017, citando Bolsonaro como uma ameaça. A manchete dizia: “Repórteres sem Fronteiras alertam que o pluralismo midiático no Brasil está em risco. Imprensa, rádio e internet estão nas mãos dos poderosos ‘coronéis’. Entre os oligopolistas está um bispo”, referindo-se ao dono da Record TV, Edir Macedo, que recentemente declarou seu apoio à candidatura de Jair Bolsonaro. Sobre o capitão da reserva, a matéria dizia: “os populistas já estão se posicionando (…) o ex-paraquedista do exército e político nacionalista de direita Jair Bolsonaro olha nostálgico para a ditadura militar de 1964 a 1985”.

O Sueddeutsche publicou, em fevereiro de 2018: “O demagogo do deserto é de repente uma nova estrela política no Brasil”. Usando de ironia para criticar Bolsonaro, que segundo o artigo “fica o dia inteiro falando bobagens”, alerta para seu viés violento e criminoso ao enaltecer a tortura, inclusive no momento desrespeitoso e desumano em que citou Ustra, torturador de Dilma Rousseff, durante a votação de impeachment da ex-presidenta. A agência alemã Deutsche Welle não ficou para trás: nesse mês publicou que “Analistas alemães veem democracia no Brasil em risco”, apontando que uma possível eleição de Bolsonaro poderia suprimir direitos históricos da população.

Por fim, o Handelsblatt escreveu: “O fascista popular. Até agora, os políticos brasileiros são considerados corruptos e ineficientes, mas ideologicamente flexíveis e educados. Isso mudou com Jair Bolsonaro – o populista poderia até se tornar presidente. Uma história mundial”, alertando sobre o crescimento da extrema-direita populista pelo mundo. Essa extrema-direita que, ao invés de provocar reflexões para achar uma saída política às crises, prefere enganar a população com discursos simplistas e imediatos.

“Ex-presidente detido e um Trump tropical”, essa foi a manchete do austríaco Die Presse, comparando Bolsonaro ao presidente norte-americano Donald Trump, responsável por isolar cada vez mais os Estados Unidos no cenário internacional.

A imprensa espanhola também não poupou críticas. O El País escreveu: “Bolsonaro é um Pinochet institucional para o Brasil”, comparando o ex-militar com o general Augusto Pinochet, responsável por uma ditadura sangrenta que acabou com a economia chilena. A comparação torna-se extremamente relevante, uma vez que o economista de Bolsonaro, Paulo Guedes, foi um “Chicago boy”, universitários que estudaram nos EUA e depois foram ao Chile durante a ditadura aplicar as normas neoliberais – que mais tarde quebraram a economia.

O El Mundo escreveu: “Bolsonaro: o candidato racista, homofóbico e machista do brasil”; La Vanguardia: “Bolsonaro: o Candidato Ultradireitista que canalizou a insatisfação no Brasil”. O português Público chamou Bolsonaro de “jagunço”, e o Diário de Notícias comparou seu discurso ao de Adolf Hitler.

Os franceses Le Figaro e Liberation denunciaram em suas manchetes o autoritarismo de Bolsonaro, uma ameaça a democracia: “Brasil nas garras da tentação autoritária” e “No Brasil, um ex-soldado para liquidar a democracia” foram os títulos. Até mesmo o jornal conservador italiano Il Corriere Della Sera expôs sua preocupação com a manchete “Um pesadelo chamado Bolsonaro”.

O britânico The Economist chamou Bolsonaro de “A mais nova Ameaça na América Latina”, em uma reportagem que foi a capa da revista. O The Guardian também chamou o candidato do PSL de “perigoso”. O jornal suíço Neuen Zürcher Zeitung chamou o ex-capitão da reserva, em sua manchete, de “O Faxineiro racista do Brasil”.

Praticamente toda a mídia dos Estados Unidos cobriu de forma crítica a candidatura de Jair Bolsonaro. A revista Time escreveu: “Jair Bolsonaro ama Trump, odeia pessoas gays e admira autocratas”. A Fox News chamou os comentários do candidato de “ofensivos”; o Washington Post denunciou o perigoso apoio da bancada evangélica à Bolsonaro; o The New York Times alertou: “Brasil flerta com um retorno aos dias sombrios”, referindo-se a ditadura militar. Por fim, o Financial Times considerou uma possível vitória de Bolsonaro de “trágico destino”, já que representaria “uma rebelião antidemocrática” como solução errônea contra “uma elite corrupta”.

Até mesmo na Austrália a candidatura do ex-militar não foi bem recebida. O The Australian chamou o candidato de “risco a democracia” e o The Sydney Sunday Herald tentou explicar aos seus leitores o porquê de alguns brasileiros apoiarem um “explosivo candidato de extrema-direita”.

América Latina, Índia, África e Oriente Médio

Os principais veículos da Argentina, Chile, México e Peru também fizeram matérias expondo sua preocupação com a candidatura de Bolsonaro. Manchetes como “Linha dura e Messianismo: Bolsonaro, o candidato mais temido, se lança para a presidência”, do argentino La Nacion, “Bolsonaro assusta com soluções simplistas e autoritárias", do chileno El Mercurio, “Bolsonaro, o Neofascista que seduz o Brasil”, do mexicano Milenio e “Brasil resiste: a promessa autoritária de Bolsonaro é desafiada pelas mulheres”, do peruano La Republica, foram alguns títulos mais fortes.

O India Express denunciou a fala simplista e violenta do candidato do PSL, “Deixe a polícia matar criminosos”. O Al Jazeera, agência árabe de notícias, e o sul-africano The Star repercutiram a manifestação que reuniu milhares de brasileiras contra as ideias e o discurso de Bolsonaro.