Bolsonaro propõe saúde bucal para grávidas como prevenção de doenças

Em meio ao aumento da mortalidade infantil e mortalidade materna – causadas pela falta de atendimento rápido e efetivo no SUS, pela falta de saneamento básico e vacinação – o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) aponta, em seu plano de governo, a higiene bucal das gestantes como forma de prevenção e controle de doenças.

Por Verônica Lugarini

jair bolsonaro - Sérgio Lima/Poder360

Com o slogan “prevenir é melhor e mais barato”, o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) cita apenas uma vez, em seu curto plano de governo (o documento tem 4 páginas), o cuidado com as gestantes.

Para o candidato, um bom ‘exemplo’ (palavra em letras maiúsculas no texto) de proposta para a saúde é o cuidado com a saúde bucal das gestantes. “Saúde bucal e o bem-estar da gestante. Estabelecer nos programas neonatais em todo o país a visita ao dentista pelas gestantes. Onde isso foi implementado, houve significativa redução de prematuros”, diz o plano.

Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, cerca de 50% das pacientes analisadas (2 mil no total) apresentavam algum problema bucal, como gengivite ou cárie. Todavia, muitos problemas bucais desta fase são provocados pela carência de cálcio na dieta materna. O que resvala novamente à atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem como função fazer o pré-natal e acompanhar o parto e pós-parto.

(Trecho do plano de governo do candidato)

Apesar da higiene bucal da grávida ajudar na saúde do feto e na diminuição do nascimento de bebês prematuros, esse cuidado é não prioritário para a redução de problemas do recém-nascidos no país, diante de maiores desafios que o governo já enfrenta.

Portanto, se há uma lacuna no atendimento odontológico para as gestantes, mais grave é situação das filas de espera para realização de ultrassom e queda no número de vacinações das mães.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que, em 2017, houve queda na cobertura de diversas vacinas como a dTpa (difteria, tétano e coqueluche), cuja adesão não chegou à metade do esperado. Segundo o ministério, manter a vacinação em dia durante a gestação é essencial para garantir a saúde da mãe e do bebê.

Além disso, a anencefalia desponta como desafio à saúde pública. Segundo informações do Ministério da Saúde (as mais recentes de 2015) a cada ano há 7 mil casos no país, sendo que 50% das mortes são provocadas ainda na vida intrauterina. Dos bebês que nascem com vida, 99% morrem logo após o parto ou sobrevivem por alguns dias ou meses.

No Brasil, morrem em média cerca de 20 bebês por dia com malformação congênita, deformidades e anomalias antes ou depois de nascer. Sendo esta a segunda maior causa de mortalidade de recém-nascidos (até 27 dias) no país. Em primeiro lugar aparecem as complicações associadas à prematuridade.

Mortalidade materna e infantil

Fazendo uma análise mais ampla, Bolsonaro defende que agentes comunitários de saúde sejam treinados para se tornarem técnicos de saúde preventiva para auxiliar o controle de doenças frequentes como diabetes e hipertensão.

Porém, está ausente em seu plano de governo qualquer proposta para a diminuição da mortalidade infantil e materna no país. De acordo com dados consolidados pela Fundação Abrinq, as mortes de crianças cresceram 11% entre 2015 e 2016.

Já a taxa de mortalidade das mães foi de 62 mortes por 100 mil nascidos vivos para 64,4 em 2016. Em meio a esse aumento, o Brasil também deixou de cumprir o compromisso internacional. Segundo pacto com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil deveria ter baixado em 75% as mortes maternas até 2015, mas chegou a uma redução de apenas 57%, faltando ainda 18% pontos percentuais para alcançar o objetivo.

Várias são as causas que levam aos óbitos como hipertensão, hemorragia, infecções e abortos provocados, porém cerca de 92% das mortes sejam evitáveis.

Além desses problemas de saúde pública não serem citados no plano de governo, Bolsonaro afirma ainda que é contra mais investimentos na saúde pública. Para ele, “a saúde deveria ser muito melhor com o valor que já gasta”, porém são mal utilizados.