A chapa Haddad-Manuela e as vias do fascismo

Nessa reta de chegada da campanha eleitoral está concentrado um longo processo de luta entre o que há de mais perverso para o país e a caminhada das forças democráticas. A ascensão das vias do fascismo serve de alerta e impõe a busca de caminhos para impedi-las de prosperar.

Por Osvaldo Bertolino*

Bolsonaro Mourao

As manifestações protofascistas de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão não devem ser vistas como algo sem gravidade. Elas têm um pano de fundo com forte coloração ideológica reacionária, uma afronta a valores como ética, justiça e direitos humanos. Surge, consequentemente, a constatação de que nessa campanha eleitoral a defesa da democracia se impõe como prioridade, sobretudo para a chapa Fernando Haddad-Manuela d’Ávila, que no espectro eleitoral ocupa a margem oposta, a da civilização contra a barbárie. Ela tem diante de si o desafio de unir amplas forças para isolar e derrotar as vias do fascismo. Serão necessários movimentos mais ousados em defesa da democracia.

Nessa campanha antifascista há, também, a tarefa de repelir energicamente o molde imposto pela mídia que opõe “petistas” e “antipetistas”. Essa falsa dicotomia tem de ser superada para que a verdadeira polarização possa aparecer com nitidez; o que vai emergindo com o crescimento da campanha de matiz fascista da dupla Bolsonaro-Mourão é a oposição entre democracia e ditadura, liberdade e opressão, direitos e exploração. Os avanços sociais e as garantias do Estado Democrático de Direito são conquistas caras ao povo brasileiro, que surgiram após mais de vinte anos de enfrentamentos com a ditadura militar de 1964.

Propostas bestiais

O flerte dos candidatos da extrema direita com o que havia de pior naquele regime é um sinal evidente de que essa dicotomia precisa ser enfrentada com determinação. Bolsonaro, por exemplo, ao votar a favor da fraude do impeachment de Dilma Rousseff declarou que seu gesto era em memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra — o mais sanguinário dos comandantes do DOI-Codi paulista, que comandava pessoalmente sessões de bestialidades como assassinatos sob torturas e todo tipo de violência contra mulheres —, segundo ele o “pavor” da presidenta.

Tudo isso em nome de uma falsa ''defesa'' do país contra um vilão vago e difuso que, segundo ele, à falta de melhor definição, atende por “comunismo”. Ou seja: ele luta contra o projeto democrático da Constituição de 1988, que acabou com os entulhos autoritários do regime de 1964. Os códigos e as convenções do sistema democrático não servem para levar adiante a plataforma ideológica da chapa Bolsonaro-Mourão. Nas propostas deles o arcabouço do Estado Democrático de Direito que enterrou as práticas de gente como Brilhante Ustra é um anátema. Daí a pregação ideológica de viés fascista e golpista sobre os mais variados assuntos de interesse público.

Quem acredita honestamente nessas propostas bestiais deve olhar friamente para o seu programa de governo e tirar algumas conclusões: ele não difere em nada dos demais do campo conservador, com o agravante de que a promessa é de implantá-lo com urgência e de forma radical, uma tática de governo compatível com quem manifesta profundo desprezo pelas regras democráticas. Na prática, isso quer dizer barreiras para impedir o resgate da dívida social gigantesca que voltou a ser rolada com o golpe de 2016 e o alargamento do caminho para a acumulação financeira. É o neoliberalismo com sua face radicalmente neocolonial.

Firmeza de propósitos

Esse ambiente de radicalização antidemocrática moldada pela mídia é um terreno é fértil para saídas demagógicas, propostas por irresponsáveis que sonham com aventuras como a de 1964. Para enfrentá-los, a chapa Fernando Haddad-Manuela d’Ávila talvez deva aprimorar sua plataforma política e fazer constar a defesa da democracia como item prioritário. Como disse George Dimitrov, no seu famoso "Informe" ao 7º Congresso da Terceira Internacional Comunista, fascismo é “dissimulação da demagogia social” para “arrastar as massas da pequena burguesia desajustadas pela crise e até alguns setores das camadas mais atrasadas do proletariado".

Nenhum outro programa de governo expressa tão bem a oposição a essa demagogia, ao defender um amplo leque de possibilidades individuais e de garantias de um lugar digno a cada um, do que o da chapa Fernando Haddad-Manuela d’Ávila. Para levá-lo à vitória, será preciso fazer valer as garantias democráticas, o direito da sociedade escolher livremente seu destino. Essa é uma tarefa de grande envergadura, que exige flexibilidade tática, amplitude e firmeza de propósitos. Se esquecermos os ensinamentos da história, estaremos dando chance para o fortalecimento dessa via arbitrária e socialmente intolerante. Aí vem o fascismo.