Chomsky critica hostilidade da imprensa contra governos progressistas

Em passagem pelo Brasil, o linguista, filósofo e ativista norte-americano Noam Chomsky criticou o monopólio da imprensa hegemônica e a forma hostil como esta age contra os governos progressistas na América Latina. Garantiu ainda que, nos Estados Unidos, esse tipo de comportamento da imprensa não seria tolerado pelo governo. “É inimaginável que haja um golpe de Estado em curso nos EUA e um grande meio de comunicação o apoie sem consequências graves”, disse.

Por Mariana Serafini

Chomsky no Barão - Barão de Itararé

Chomsky destacou exemplos de grupos de comunicação latino-americanos que abertamente se posicionam em defesa da derrubada de governos progressistas democraticamente eleitos e não sofreram nenhum tipo de retaliação por isso. Segundo ele, é impensável os governos de países da Europa ou dos EUA também permitissem um comportamento deste tipo: “nos ditos países livres, isso jamais aconteceria”.

“Governos de esquerda na América Latina sempre permitiram que as mídias funcionassem e ela é, frequentemente, muito hostil a esses governos. Isso é um problema, porque esses governos estiveram e estão sob um ataque amargo. Em um país livre, isso seria inconcebível”, destacou.

Usou como exemplo o Brasil, onde o presidente Lula foi sistematicamente atacado pela Globo, mesma emissora que depois apoiou também o impeachment da ex-presidenta Dilma e ainda assim nunca exerceu nenhum tipo de controle. Para o especialista, isso mostra que os governos progressistas latino-americanos sempre deram toda liberdade à imprensa, mesmo sabendo que se trata de grandes grupos empresariais que dominam os meios de comunicação e manipulam a informação de acordo com seus interesses econômicos.

De acordo com Chomsky, a América Latina é “famosa” por sua imprensa hegemônica monopolizada por famílias e empresas. Em países desenvolvidos, este monopólio costuma ser proibido ou controlado. Um mesmo não dono não pode possuir, por exemplo, rádio, televisão e jornal impresso. Já aqui, esta prática é comum, quase a regra.

Bolsonaro e o retorno dos “Chicago Boys”

Questionado sobre a judicialização da política que acontece atualmente no continente e a influência de profissionais que estudaram nos Estados Unidos e voltam para os países latinos para aplicar as técnicas de lawfare, o filósofo lembrou o caso dos “Chicago Boys”.

Ficou conhecido como “Chicago Boys” o grupo de economistas que estudou na Universidade de Chicago e voltou para os países latinos durante as ditaduras dos anos 1960 e 1990 para aplicar as políticas neoliberais. O caso mais emblemático, à época, aconteceu no Chile. O país virou um verdadeiro laboratório do neoliberalismo sob o pulso de ferro do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).

“Os Chicago Boys acabaram com a economia do Chile, fizeram uma bagunça”, afirmou o ativista norte-americano. Em seguida, lembrou que o economista ligado ao programa de governo de Jair Bolsonaro e possivelmente o mais cotado para o Ministério da Fazenda caso ele seja eleito, Paulo Guedes, é um dos membros deste grupo.

Ou seja, a política econômica do candidato de extrema-direita provavelmente será muito parecida ao que aconteceu no Chile de Pinochet: uma série de privatizações que, mesmo passados 30 anos, ainda prejudicam a maioria da população e acentuam as desigualdades.

A coletiva de imprensa com o filósofo e linguista aconteceu no Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, na capital paulista, na última segunda-feira (17). Participaram jornalistas de veículos progressistas, ativistas digitais e blogueiros.