Armas nos EUA, um problema de direitos humanos

A organização Anistia Internacional considera que o uso de armas nos Estados Unidos, que provoca mais de 30 mil mortos por ano, deve ser encarado como um problema de direitos humanos e não apenas de saúde pública

armas nos eua - Reuters

Em relatório publicado na quarta-feira (12), a organização sem fins lucrativos afirma que "todos os aspectos da vida americana foram comprometidos de uma forma ou de outra devido ao acesso às armas sem restrições".

"A capacidade que temos de viver as nossas vidas em segurança e com dignidade, livres do medo, é um dos pilares dos direitos humanos. Ninguém tem os seus direitos humanos assegurados enquanto os nossos líderes não fizerem nada sobre a violência com armas", diz Margaret Huang, diretora da Anistia Internacional nos Estados Unidos, em comunicado.

De acordo com os dados mais recentes, relativos a 2016, mais de 38 mil pessoas morreram e 116 mil ficaram feridas nos Estados Unidos com armas de fogo. Dois anos antes, em 2014, morreram 34 mil pessoas e 81 mil ficaram feridas.

"O Governo dos EUA coloca a posse de armas acima dos direitos humanos mais básicos", diz a Anistia Internacional, que acusa também o Congresso do país de uma "assombrosa falta de vontade política para salvar vidas".

"Apesar do grande número de armas circulando, e do número de pessoas mortas por armas todos os anos, há uma chocante falta de leis federais que poderiam salvar milhares de vidas", diz Margaret Huang.

No relatório, intitulado "Na linha de fogo: os direitos humanos e a crise de violência com armas nos EUA", a Anistia Internacional propõe-se a pressionar as estruturas do Governo norte-americano para adotarem medidas que abranjam todo o país, como a proibição da venda de armas semi-automáticas ou o reforço da verificação de registo criminal dos compradores pelos vendedores.

A discussão sobre a venda e o uso de armas nos Estados Unidos desponta sempre que se registra um tiroteio com vários mortos, especialmente quando acontecem em escolas. Mas a Anistia Internacional chama a atenção para os casos individuais, que acontecem todos os dias e afetam muito mais pessoas.

"Apesar de os tiroteios em massa terem profundos efeitos emocionais e psicológicos, e de poderem ser prevenidos por uma proibição de armas de assalto e de carregadores de alta capacidade, esses casos são responsáveis por menos de 1% das mortes com armas de fogo", diz o relatório. "Mais comuns e menos difundidos são os incidentes individuais, que permeiam a vida diária nas comunidades de todo o país."

Além de tratar a violência com armas nos Estados Unidos como um problema de direitos humanos, a Anistia Internacional vai lançar programas de sensibilização e iniciativas de pressão política em vários estados norte-americanos, começando pelo Ohio, Illinois e Michigan.