O governo francês e a força dos lobbies na União Europeia

O discurso de Emmanuel Macron a favor de políticas mais rigorosas para o meio-ambiente caiu por terra com a demissão de uma das estrelas de seu gabinete, o ativista Nicolas Hulot. O governo do presidente francês reforça algo que acontece em toda a Europa: a forte influência dos lobbies no continente

Macron e agricultores

Um relatório dos Verdes no Parlamento Europeu, datado de maio, diz ter encontrado 88 casos em 13 países da União Europeia de conflito de interesse entre decisores políticos e empresas ligadas ao setor petrolífero, através do fenômeno chamado “portas giratórias”: políticos que passam para empresas ligadas à sua área de intervenção e vice-versa.

Lobby, palavra inglesa, designa a atividade de influência, velada ou não, de um grupo organizado com o objetivo de interferir diretamente nas decisões do poder público, em especial do poder legislativo, em favor de causas ou objetivos defendidos pelo grupo por meio de um intermediário.

Além do setor energético, outros grupos de interesses continuam a pesar sobre os decisores. O governo de Macron, com o ex-ministro da Economia e com vários outros ministros do setor privado, tem assumido as suas ligações aos lobbies.

“Emmanuel Macron encarna um velho mundo com uma pintura retocada, em que a última camada de verde desapareceu definitivamente”, criticou, em declarações ao jornal Le Monde, Yannick Jadot, do partido Europa Ecologia-Os Verdes para as eleições europeias de 2019.

Macron é um presidente “abacate”, como o chamava Jadot em maio — verde por fora, mas amarelado por dentro —, porque não cumpriu os objetivos da sua política ambiental ambiciosa. A batalha para banir o herbicida glifosato na União Europeia, por exemplo, chocou com a oposição da Alemanha, que assegurou o uso por mais cinco anos.

Verdade seja dita, a política francesa não é muito diferente do que se passa em outros países da UE. A chanceler alemã, por exemplo, declarou na segunda-feira (27) que não está “muito contente” com a revisão das metas de redução das emissões de CO2 para 2030, que passariam de 40% para 45%. Berlim admitiu que não conseguirá cumprir a meta de redução que tinha traçado para 2020.