120 anos de uma paixão eterna

O Vasco está enraizado de tal forma no Brasil que existirá e será gigante enquanto existir um brasileiro, ou como diria Cyro Aranha, “enquanto houver um coração infantil”.

Por Wevergton Brito*

Vasco

Alguns vascaínos argumentam que nós não temos nada a comemorar neste 21 de agosto de 2018, devido à fase do time em campo.

É verdade que não estamos felizes. Já há vários anos o Vasco vive tempos que não são dignos de sua trajetória de glórias e conquistas.

Porém, mesmo este vascaíno, que com razão não se conforma em ver o Vasco passar pelo que está passando, se parar um pouco para pensar no que significa o Vasco, os valores e símbolos que o Vasco carrega em sua história, e que se espraiam como ondas benignas, trazendo beleza, inspiração e amizades que duram toda uma vida, verá que temos razões infinitas para comemorar.

O Vasco nasceu contra todas as possibilidades de se tornar um vencedor. E venceu. Surgido no subúrbio do Rio de Janeiro, disputando espaço contra elitistas e preconceituosos clubes da parte rica (zona sul) da cidade maravilhosa (Flamengo, Fluminense e Botafogo), clubes que torciam seus aristocráticos narizes para um agrupamento “insolente” de imigrantes portugueses, negros e operários, o Vasco cresceu contra todas as possibilidades de se tornar um gigante. E se tornou.

Ao contrário de outras clubes com histórias um tanto artificias e midiáticas, que só recentemente galgaram conquistas significativas, o Vasco na década de 20 já tinha seu estádio próprio (terreno e construção totalmente financiados por dinheiro arrecadado dos vascaínos), na década de 40 já era campeão continental, na década de 70, campeão brasileiro, e por aí vai.

Mas nosso maior troféu é (e será sempre) aquele que foi conquistado na origem da história cruzmaltina, quando o Vasco impôs na marra a presença de negros e operários no futebol (quem se interessar leia aqui a Resposta Histórica). Por conta disso sofreu feroz ataque de todos os lados e, neste Brasil onde “não existe racismo”, onde “não existe preconceito social”, passados 120 anos, o Gigante da Zona Norte continua pagando o preço por sua origem e opção.

Mas é isso que faz o Vasco invencível. O Vasco é o nordestino, como meu pai, minha mãe e meu avô. Como eu e meu irmão. Como milhões de nortistas, sulistas e brasileiros de todos os quadrantes que trazem no peito a cruz de cristo.

O Vasco é o ambulante da central, o porteiro do prédio, o índio, o poeta, o sambista, o cristão, o umbandista e o ateu. Em termos de Clube de futebol, o Vasco é a mais perfeita síntese do Brasil, de sua miscigenação europeia, negra e indígena que deu origem a este povo único, o povo brasileiro.

Todos os grandes clubes têm torcidas apaixonadas, mas a paixão pelo Vasco é uma paixão incomum, pois paixão costuma ser intensa, mas arrefece com o tempo. A paixão pelo Vasco não. É cotidiana e aumenta sempre. O vascaíno típico é aquele que pelo menos uma vez por dia para tudo para se preocupar com o Vasco. Isso não se encontra em nenhum outro clube.

Depois de uma derrota, o apaixonado vascaíno, magoado, por vezes diz, com a maior firmeza do mundo, que “não quero mais saber disso” e outras coisas assim, para na manhã seguinte (ou às vezes, no mesmo dia) esquecer completamente do que havia afirmado com tanta ênfase – como se todos tivessem a obrigação de saber que o que disse naquele momento era uma coisa impossível e que não deveria ser levada a sério – e com a mesma alegria juvenil, comentar sobre os próximos jogos e falar com orgulho do “Vascão”.

Por que todo este envolvimento não se transforma em força mais efetiva, por exemplo, em associação em massa ao Clube, é uma importante pergunta para a qual temos o dever de buscar respostas.

De qualquer maneira, amigo vascaíno, desconfie sempre de quem, em tom alarmista, falar em “apequenamento” do Vasco. Pode ser até que seja um alerta bem-intencionado, mas parte de alguém sem consciência do que representa o Vasco.

O Vasco está enraizado de tal forma no Brasil que existirá e será gigante enquanto existir um brasileiro, ou como diria Cyro Aranha, “enquanto houver um coração infantil”.

As causas da atual crise pela qual passamos têm fatores internos e externos. Do ponto de vista interno, o ponto principal é não deixar que as divergências políticas cavem um fosso intransponível a separar os vascaínos. Não permitindo que isso aconteça, não tenho dúvidas de que reencontraremos nosso caminho.

As antigas gerações nos legaram um poderoso suporte capaz de impulsionar o Vasco para mais 120 anos de glórias. Com certeza, a atual geração de vascaínos e vascaínas será digna desta missão.

Parabéns Vasco, Parabéns vascaínos!