A votação histórica sobre o aborto na Argentina acontece amanhã

A Argentina viverá nessa quarta-feira (8) um dia histórico. O Senado deverá aprovar ou não o aborto legal

manifestação pela legalização do aborto na argentina - Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito

Lenços azuis contra verdes (pró-legalização do aborto, que chamaram a atenção do mundo todo ao marcharem pelas ruas argentinas nos últimos meses), manifestantes contra e a favor da legalização do aborto na Argentina se preparam para tomar as ruas no próximo dia 8. A pressão sobre senadoras e senadores cresce e mudanças de posição dos dois lados aumenta a tensão. Hoje aqueles que são contrários ao aborto dizem que já tem 37 dos 72 votos. Contudo, as manifestantes pró-legalização podem voltar a promover uma onda verde pelo país como fizeram nos dias de votação na Câmara dos Deputados.

Outra polêmica foi que, durante a votação da lei do aborto, a imprensa alternativa está proibida de entrar. O argumento é de que não há espaço para todos, mas na realidade pode ser entendido como um cerceamento à circulação da informação por fora da mídia empresarial.

Ententa quatro motivos que explicam a importânica da legalização do aborto no país latino-americano:

Mulheres que morrem na clandestinidade 

Estima-se que 500 mil mulheres abortam na Argentina por ano. Isto é, 40% de toda gravidez. Das 500 mil mulheres que interrompem a gestação, 450 mil correspondem a abortos clandestinos. 

Uma pesquisa publicada em 2016 alerta que 298 adolescentes entre 15 e 18 anos dão a luz diariamente na Argentina: 50 delas pela segunda vez e 10 pela terceira vez.

Além disso, oito meninas entre 10 e 14 anos tornam-se mães todo o dia no país. Do total de meninas e adolescentes entre 10 e 18 anos, 70% não queria ser mãe. 

Nem vírus, nem infecções, nem transtornos hipertensivos. Segundo indices do Ministério da Saúde da Argentina, a primeira causa de morte materna no país há 30 anos é o aborto clandestino. 

Em 2016 foram registrados 43 mortes de mulheres por interromper sua gravidez de maneira clandestina; em 2014, 47 mil mulheres foram hospitalizadas, o que representa 135 mulheres por dia. 

Se a lei for negada, estima-se que nos próximos anos serão 174 novas mulheres mortas, e cerca de 98 mil internadas por complicações após abortos clandestinos.

Uma lei de 100 anos atrás

A lei que atualmente nega a interrupção da gravidez na Argentina data de 1921: sete anos depois do Titanic ter afundado; trinta anos antes das mulheres poderem votar no país; foi criada durante a Primeira Guerra Mundial; antes da Segunda Guerra; antes do primeiro foguete ter sido lançado no espaço; antes da bomba nuclear destruir Hiroshima e Nagasaki; antes da queda do muro de Berlim; e por fim, antes da invenção da internet.

A interrupção da gravidez é uma realidade

O direito das mulheres ao voto foi conquistado na Argentina em 1951. Desde então, os direitos culturais e sociais das mulheres tem crescido na sociedade. 

Como um reflexo do processo evolutivo das sociedades, os números de interrupção de gravidez são uma realidade da qual os países mais desenvolvidos têm aceitado. 

Desde 1960 mais de 30 países modificaram a sua legislação para permitir maior acesso ao aborto legal, devido às exigências culturais, a necessidade da interrupção da gravidez sem riscos para a mulher, fundamental para a proteção da vida e da saúde daquelas que estão grávidas. 

Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália, Suécia, Suiça, China, Austrália e Estados Unidos são alguns dos países onde o aborto é legal e sem restrições de nenhum tipo (tirando os prazos em relação às semanas de gestação, entre 12 e 14 semanas dependendo das leis de cada nação). 

Vozes positivas em números

No Uruguai, desde a legalização do aborto em 2012, a porcentagem de mortes por esta causa caiu de 37% para 8%. Desde que em 2010 a Espanha também legislou sobre a interrupção da gravidez, os casos de aborto foram reduzidos progressivamente por 5 anos consecutivos. 

Na Holanda, onde a lei existe desde 1981, apenas 10,4 de cada mil mulheres decidem abortar.

Na América Latina, os únicos países que contam com uma lei de aborto legal são Cuba e o Uruguai. Poderia a Argentina ser o terceiro?

Nessa quarta (8), o Senado votará o projeto de lei para a interrupção voluntária da gravidez, já aprovado na Câmara dos Deputados no dia 14 de junho desse ano. Na quinta-feira (9), a Argentina poderá amanhecer pintada de verde.