Fotógrafo flagra agressividade de seguranças a menino no metrô de SP

“São fotos que dão sentido de mais de 100 anos de idade em relação ao jeito como a humanidade trata as crianças.” Assim o fotógrafo Juca Martins define a sequência de fotos feitas nesta quinta-feira (19), na estação Sumaré da Linha 2-Verde (Vila Prudente/Vila Madalena) do Metrô paulista. As imagens mostram um garoto aparentando 10 anos, descalço, sendo abordado por seguranças da companhia. Ele foi agarrado, teve a mochila revistada pelos agentes e depois foi posto para fora da estação.

Menino abordado violentamente por seguranças do metrô Sumaré em São Paulo, flagra do fotógrago Juca Martins - Juca Martins

“Eu estava no vagão e vi esse menino entregando um papelzinho aos demais passageiros. Não cheguei a pegar o papel, mas imagino que estava pedindo ajuda. Quando desci na estação Sumaré, vi que ele também desceu, mas logo foi abordado por um segurança”, relatou Martins, que decidiu acompanhar a abordagem.

“Logo chegou outro segurança. De forma muito truculenta, um segurou um braço o outro a mochila e o menino começou a reclamar, quase a chorar. Minha primeira reação foi interpelar, dizer que tratassem direito com ele, perguntassem o que estava fazendo. Os caras foram muito agressivos e começaram a ficar mais violentos com o menino”, afirmou.

Sem ter como reagir, o fotógrafo sacou o celular e começou a fazer fotos. Uma delas, publicada em sua página na internet, já conta centenas de reações. “Eu acompanhei o procedimento. Eles levaram o garoto até a rua. Ele esperneou, lutou. Na volta um dos agentes me disse: ‘Gostou? Leva pra casa’. E eu respondi que não se tratava disso, mas da forma violenta como eles tratam as pessoas”, relatou Martins. Ele não conseguiu fazer contato com o menino, que estava muito nervoso e chorando.

Em tempos de crise no jornalismo, a sequência de fotos de Martins mostra a importância que o fotojornalismo tem para denunciar as injustiças cotidianas. Ele, inclusive, havia acabado de encerrar uma aula em um workshop gratuito sobre fotojornalismo ministrado na Casa da Imagem. “Encerrei o curso explicando que os temas do fotojornalismo são eternos e inesgotáveis. Mostrei fotos de crianças de cem anos atrás, trabalhando em condições semi-escravas, exploradas, maltratadas. E discutimos como muitas coisas na sociedade não mudam”, disse.

Juca Martins atua como repórter fotográfico desde os anos 1970. Foi editor de arte do jornal Movimento e já participou de exposições em vários países. Ganhou o Prêmio Esso de Fotografia com uma série de reportagens sobre menores e o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos com reportagem sobre a guerra de El Salvador.