Lu Castro: A Copa e as afinidades eletivas

E mais uma Copa acabou. Pode não ter sido a Copa que muita gente queria, mas foi a melhor que se pôde apresentar ao mundo. Foi a edição que trouxe surpresas, que tombou grandes e exaltou pequenos. Foi a edição que revolucionou o olhar do árbitro e podou, de certo modo, os exageros de jogadores mais dados às artes cênicas que ao jogo.

Por Lu Castro*

Neymar - Foto: Pedro Martins/Mowa Press

Foi a Copa que ratificou alguns dos meus sentimentos e alterou, definitivamente, o modo como enxergava alguns atletas. Se havia algum ranço em relação a alguns comportamentos, ele foi dissipado. Se havia algum ranço em relação a alguns comportamentos, ele foi ampliado.

Neymar: Não adianta, eu até tentei modificar meu sentimento, mas sem chance! Minha visão sobre o atleta/pessoa ultrapassa o limite do imparcial e pende para a vontade de lhe surrar com uma sandália melissa. O que conseguiu nesta Copa foi virar meme e chacota mundial e considero isso um desrespeito enorme à camisa que muito homem de responsa vestiu para nos tornar pentacampeões.

Messi: Estou tentando entender até agora o que acontece o E.T. no meio da esquadra argentina. Não há, enquanto elemento da seleção, o mesmo brilho que no Barcelona. E, mesmo com toda a insipiência de Sampaoli à frente da seleção, Messi não foi ~mais uma vez~ o que esperamos que seja defendendo la albiceleste. Lamentei a eliminação, questionei, me enchi de compaixão e meu sentimento por Messi segue o mesmo: ele é SIM, de outro mundo.

Cristiano Ronaldo: O lado bom do passar do tempo é que com ele vamos amadurecendo e ajustando as lentes com as quais enxergamos as pessoas, as coisas, a vida. E se tem um cara pelo qual alterei meus sentimentos, esse cara é o CR7. Há uns bons anos atrás enchia a boca para dirigir as alcunhas mais desgostosas a ele, mas Ronaldo, o luso, tem se mostrado outro. Talvez seja a idade, mas o cara é coletivo dentro e fora de campo. Neste momento, em que o mundo é tão mais individual e egoísta, vê-lo chamando a responsa pra si em vários campos da vida, me transformou em sua fã. Ronaldo, com 50 anos você vai estar inteiro, pode acreditar!

Bélgica: Na sincera, até esta Copa a participação da Bélgica nos mundiais ou mesmo qualquer coisa que se relacionasse com o país, não me despertava qualquer interesse. Bélgica? Quem é a Bélgica na fila do pão, meu filho? Mas isso também mudou e com o futebol apresentado pelo selecionado belga, dirijo hoje, olhares mais interessados sobre ele.

Celeste: Meu sentimento pela Celeste não mudou, nem mudará e só se fortaleceu nesta Copa. O professor Óscar Tabárez fez um excelente trabalho e deu consistência ao selecionado uruguaio, além de acalmar o ímpeto “mete o loko” de Suárez. Aliás, Suárez, se comportou nesta Copa, não?

Seleção da CBF: Minha última grande torcida pela seleção brasileira foi em 2006. Naquele ano tive que consolar minhas duas filhas mais velhas que sofreram pela primeira vez com o futebol nacional. Soma-se a isso, toda história de Ricardo Teixeira, Marín, Del Nero e escândalos, sujeira e tudo o que denigre e emporcalha o futebol brasileiro. Não, não nutro mais simpatia e não consigo desvincular uma coisa da outra. Desculpa!

Por fim, mas não menos importante, a própria Copa do Mundo: Segue sendo a competição que pontua a história futebolística mundial e por isso, já estou viúva, triste e aguardando as histórias que se desenrolarão em 2022. E certamente, até lá, muitos das minhas afinidades se transformarão.