Municípios dependentes da cadeia do petróleo sofrem mais o desemprego

 O sonho de uma vida com mais oportunidades foi a força motriz que motivou durante alguns anos muitos trabalhadores a migrarem para o estado do Rio de Janeiro na esperança de construir um futuro melhor a partir dos empregos gerados pela cadeia produtiva do petróleo e gás.

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 Maurício Oliveira foi um desses jovens que veio para o Rio de Janeiro na esperança de construir uma vida melhor. Aos 21 anos, o baiano de Feira de Santana, cidade localizada a 108 quilômetros de Salvador, deixou o seu estado para tentar uma vaga de auxiliar de serviços gerais no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí. Porém, a promessa de emprego não chegou e há mais de um ano Oliveira atua no trabalho informal nas ruas do centro de Niterói. Tornar-se camelô foi a única solução que restou para o jovem sustentar a família.

“Eu vim em busca de emprego, através de uns colegas que trabalhavam no Comperj, em Itaboraí, lá não está tendo mais emprego, não consegui nada e estou trabalhando de camelô. Há muito tempo, na Bahia, o povo falava que aqui tinha muito trabalho, e eu vejo que não é nada disso. Ficar aqui para receber mil reais, para pagar aluguel, água e botar comida dentro de casa, não dá para se manter”, explica Oliveira.

A dificuldade vivida por Maurício é a mesma de milhões de brasileiros. Contudo, no Rio de Janeiro, a situação acaba sendo pior do que na maior parte do país. De acordo com Diego Maggi, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), os últimos dados revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para um alto índice de desocupação, ou seja, pessoas que estavam dispostas a trabalhar, porém não conseguiam emprego.

“Vemos que a situação do Rio de Janeiro é um pouco pior do que a média do país como um todo. Se a gente acompanha a taxa de desocupação, vemos que no primeiro trimestre de 2018, de janeiro a março, essa taxa de desocupação no país foi de 13,1%. No estado do Rio, esta taxa foi de 15%, ou seja, a gente tem uma taxa de 15% de desocupação. Essa taxa chegou a 15,6% no segundo trimestre de 2017”, destaca Maggi.

Os dois setores econômicos que mais afetaram o encolhimento do mercado de trabalho no estado do Rio de Janeiro foram o da construção civil, responsável pelo “boom” no mercado imobiliário e o da extração mineral, onde entra o petróleo e gás. Segundo o técnico do DIEESE, em 2016, o setor petroquímico somava em torno de 46 mil empregos formais, ou seja, trabalhadores que atuavam pelo regime da CLT ou por contrato, enquanto em 2013, esse número girava em torno de 58 mil vagas de emprego.

“A gente tem uma grande concentração de empregos na indústria do estado do Rio, voltada para a cadeia produtiva do petróleo e gás. Conforme veio o impacto da queda do preço do barril do petróleo e da desarticulação das contratações ao redor dessa cadeia produtiva em Macaé (RJ), vimos um desmonte da cadeia produtiva no Norte Fluminense, e isso afetou o total de empregos da indústria no estado” , aponta Maggi.

A crise

A recuperação para os municípios que têm uma dependência maior da cadeia do petróleo não tem sido fácil, é o caso de Campos dos Goytacazes, por exemplo. De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho, o município que sofreu com o impacto da queda dos royalties e do desmonte do setor, ainda não conseguiu se recuperar e segue apresentando um índice de desligamentos de postos de trabalho maior do que as admissões, segundo o último relatório apresentado pelo CAGED.

Ainda segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, em 2017 a região Norte Fluminense eliminou 12.401 vagas de emprego. Só no setor de comércio, no município de Macaé, 720 postos de trabalho foram fechados.

Para Maggi, o Rio de Janeiro vive um processo de desindustrialização que tem afetado diversos setores do mercado de trabalho, contudo, alguns municípios, que são mais dependentes de uma única atividade econômica têm sentido um impacto maior.

“Considerando que a cadeia produtiva do petróleo e gás está afetando de maneira múltipla a extração mineral, de serviços e indústrias, a perda de empregos no setor de indústrias não se explica só por conta da cadeia produtiva do petróleo, o que estamos vendo no Rio de Janeiro é um processo de desindustrialização. A gente está tendo perda de empregos formais, celetistas (trabalhadores que atuam pelo regime CLT) em diversos subsetores da indústria, setor da metalurgia, alimentos e bebidas”, ressalta o técnico do DIEESE.

O papel do governo

Apesar da redução de postos de trabalho não se explicar apenas pelo desinvestimento do governo nacional na cadeia do petróleo e gás, aliado a queda do preço do barril, o setor segue respondendo por boa parte do capital econômico do estado do Rio. Por isso, a preocupação atual de especialista tem sido a nova estratégia de negócios da Petrobras adotada pelo governo Temer, que põe fim a política de conteúdo nacional na indústria do petróleo.

Isso significa a venda de campos terrestres e marítimos para o mercado estrangeiro, redução de royalties (para campos com menor potencial exploratório) e a extensão do Repetro, regime aduaneiro especial que desonera a tributação de equipamentos importados destinados à pesquisa e à produção de petróleo e gás natural até 2040.

As medidas adotadas pelo atual governo significam, a médio e longo prazo, o desinvestimento em setores da indústria nacional que eram fortalecidos a partir da cadeia do petróleo e gás, como, por exemplo, o naval. As estratégias que acabam sendo discutidas e colocadas em prática pelo alto escalão da política brasileira e são apresentadas como a solução para a economia, na verdade, acabam sendo a “pá de cal” no sonho de muitos Maurícios, que abandonam as suas cidades na esperança de construir um futuro mais digno para as suas famílias.