Bancos Centrais alertam para riscos da guerra comercial de Trump

Os presidentes de quatro dos principais bancos centrais do mundo – nos Estados Unidos, Canadá, Zona do Euro e Japão – mostraram, nesta quarta-feira (20) a sua preocupação com a escalada das tensões comerciais desencadeadas por Donald Trump. Para os executivos das autoridades monetárias, o crescimento mundial pode ser afetado.

Antes da pandemia, China e EUA travavam guerra comercial.

Em Sintra, Portugal, na última sessão da edição deste ano do Fórum do Banco Central Europeu (BCE), Jerome Powell (Federal Reserve), Mario Draghi (Banco Central Europeu), Haruhiko Kuroda (Banco do Japão) e Philip Lowe (Austrália) falaram sobre o assunto, depois de terem apresentado uma frente unida contra a aplicação de políticas protecionistas a nível comercial.

De acordo com Powell, "mudanças na política comercial podem nos levar a questionar as perspectivas". Ele destacou ainda que é “a primeira vez que estamos a ouvir falar do adiamento de decisões de investimento”.

Lowe foi na mesma linha: "As empresas estão começando a recuar e atrasar novos investimentos […] não seria preciso muito para os mercados se unirem [à economia real] para transformar isso em um evento global realmente grande". Algo que ele classificou como "incrivelmente perturbador".

O líder do banco central australiano deixou ainda uma crítica directa à política de Trump: “Não creio que tenha havido um país que tenha conseguido criar prosperidade construindo muros à sua volta”.

O anfitrião do encontro, Mario Draghi recusou fazer para já qualquer previsão de impactos das medidas comerciais anunciadas, mas deixou claro o seu pessimismo. “Não é fácil e ainda é cedo para saber que impacto é que terá na confiança e nas exportações, mas há lições do passado e elas são todas muito negativas”, alertou, afirmando não conseguir ver “qualquer razão para estar otimista”.

Já para Haruhiko Kuroda, o efeito indireto da disputa comercial entre China e Estados Unidos sobre o Japão “será significativo”. “Espero que a escalada possa ser controlada, é uma questão muito preocupante”, disse.

Os EUA podem ser vítimas de suas próprias políticas, disseram analistas do Deutsche Bank, prevendo um impacto no crescimento e nos lucros corporativos.

"Nossa análise indica que uma nova escalada da disputa comercial para incluir 200 bilhões de dólares em importações poderia reduzir o crescimento do PIB real em 0,2 a 0,3 ponto percentual", disse o Deutsche, acrescentando que isso poderia reduzir o crescimento dos lucros das empresas do S&P 500 em 1 a 1,5 por cento