Copa do mundo

Por Silvio Almeida*

Barbosinha futebol

Eu lembro do meu pai. Lembro dele me abraçando nos gols do Brasil. Lembro dele chorando, não de tristeza, mas de emoção no 3 x 2 de Camarões e Inglaterra, na Copa de 1990.

Lembro do orgulho que tinha do meu pai toda vez que ele autografava uma camisa do Corinthians com o apelido "Barbosinha".

Lembro de como, ao saber da existência de Pelé, Garrincha e Didi, pensei pela primeira vez em como era possivel ser negro e ter pessoas aplaudindo e respeitando aquilo que você faz.

Lembro do Zé Maria, o "Super Zé", lateral do timão e da seleção, amigo que meu pai visitava todos os finais de ano.

Lembro da "Democracia Corinthiana".

Meu pai costumava se perguntar como um pedaço de couro costurado podia ter mudado a vida dele e de toda nossa a família. E mudou a de muitos jovens pobres e negros desse mundo, pai.

Sem o futebol eu não teria estudado o que estudei. Não saberia, por exemplo, de como o futebol era proibido para negros e pobres, e de como a luta para jogar era, na verdade, a luta pela dignidade, pela liberdade e pela vida. Não saberia como o futebol representou uma dimensão importantíssima da questão racial e de classe no Brasil. Não saberia como o futebol, e o esporte em geral, é palco de intensas disputas sobre os sentidos da nacionalidade e de embates políticos e econômicos.

Obrigado, pai, por me ensinar a gostar de futebol. Graças a isso eu entendo melhor as pessoas e tenho algumas condições de analisar o mundo.