Ricardo Cappelli: A amarelinha é nossa

Como bem diz a madrinha Beth Carvalho, “Trago no sangue / O verde, amarelo e o anil / Meu sangue é Brasil”.

Lula e Brizola acompanham jogo da Seleção Brasileira durante a campanha de 1998 (Foto: Reprodução)

“…e quem, tendo visto a seleção brasileira em seus dias de glória, negará sua pretensão à condição de arte?” Eric Hobsbawn – A Era dos Extremos.

Com a chegada da Copa do Mundo é nítido o incômodo de parte da esquerda com a nossa seleção. A amarelinha, que desde sempre foi para nós motivo de orgulho, de brasilidade, arte pela qual expressamos nossa cultura e unimo-nos, foi seqüestrada pelos “patos”.

Que bicho danado é esse, tão arguto, que em poucas manifestações paneleiras roubou parte de nossa alma? Junho de 2013 está muito recente. A história tratará de explicar as resultantes de um levante com cheiro de invasão estrangeira. Uma coisa apenas é certa: nunca o cinismo de Miami vestiu tanto Brasil.

A jogada simbólica foi competente. “Coloco na pele um grande símbolo nacional para esculhambar a nação. Faço cocô na cabeça do país vestindo seu uniforme de gala.”

“Com a Estátua da Liberdade no coração pego a bandeira terceiro mundista e grito: é minha!” Os adversários, confusos, encolhem. Em casa, o pavilhão nacional vira pano de chão, afinal, “pra limpar a merda deste povinho é que ela serve”. Como a esquerda caiu nessa?

Alguns partidos chegaram até a produzir camisa da seleção brasileira…vermelha!?! O que é isso? Alguém vai a um bar, a uma concentração de rua, a uma festa na casa dos amigos e encontra alguém com a camisa do Brasil vermelha? É no gueto dos “esquisitos” o nosso lugar?

O futebol é um dos poucos palcos globais onde todas as nações se fazem presentes. Se o esporte está dominado pela lógica mercantil do capital, por times transnacionais multimilionários, por organizações corruptas, a seleção nacional é resistência.

O Maracanã jamais esquecerá a torcida francesa durante a Copa de 2014 entoando a Marselhesa. Foi possível sentir o concreto se arrepiando, os monstros sagrados do futebol de todos os tempos emocionados com o legado deixado para humanidade. Joana D´arc, Napoleão e De Gaulle choravam copiosamente sentados na marquise do maior do mundo.

E não venham torcer o nariz para os meninos pelos carrões e pelas escolhas políticas equivocadas. Nossos artistas populares estão, todos, absolvidos. São brasileiros extraordinários, em sua imensa maioria vindos das camadas populares que ascenderam socialmente pelo esporte mais democrático do planeta.

Futebol se joga com qualquer bola. De couro, de borracha e até de meia. No cimento, na grama e no barro. Baixinho, grandão, forte ou franzino. Bastam dois chinelos ou duas latas para surgirem as traves. A alegria, o talento, a determinação e a criatividade fazem o resto.

Criticar a seleção ou ter vergonha de vestir a amarelinha é ser um coxinha de esquerda, com todo respeito. É ser um “não brasileiro” que desiste na primeira panelada. Salve geraldinos e arquibaldos, povo, suado, torcendo, gritando!

Mandela saiu da prisão para a presidência e uniu seu país em torno do time de rúgbi, um jogo de brancos num país de negros recém saído do apartheid. Enfrentou a ira dos radicais incapazes de compreender a centralidade da questão nacional. Putin, um estadista, desfilará triunfante pelo mundo durante os próximos 30 dias.

Lula, gênio da comunicação, cansou de usar metáforas futebolísticas para falar com o povo. Conhece nossa alma como ninguém. Apaixonado por futebol, duvido que não esteja com sua amarelinha em Curitiba.

Num momento tão triste da história nacional, uma esquerda ranzinza, mal humorada, torcendo contra vestida de vermelho, esquisita e apartada do povo seria um erro colossal.

Como bem diz a madrinha Beth Carvalho, “Trago no sangue / O verde, amarelo e o anil / Meu sangue é Brasil”.

Vamos Brasil! Rumo ao Hexa!