Estudantes de direito são vítimas de racismo em jogos universitários

No último fim de semana (02 e 03), alunos de direito que participavam dos jogos universitários foram alvos de práticas racistas. Segundo os estudantes, um atleta negro foi atingido por uma casca de banana e uma estudante foi chamada de "macaca". Além disso, um grupo de rapazes teria imitado macacos, com sons gruturais.

jogos jurídicos

Alunos negros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Católica de Petrópolis (UCP foram vítimas de racismo praticado pela torcida da PUC-Rio durante os Jogos Jurídicos em Petrópolis, na Região Serrana. Esses casos foram divulgados por meio das redes sociais.

De acordo com relatos dos alunos presentes, os episódios racistas ocorreram no sábado e domingo, dias 02 e 03. Um estudante da UERJ relatou ser “muito triste e revoltante o que está acontecendo nos Jogos Jurídicos”. Em outro episódio, o alvo foi uma aluna da UFF. Segundo o relato, a atleta de handebol feminino foi chamada de macaca por outra universitária da PUC-Rio. As duas universidades disputavam a decisão na modalidade.

Em entrevista ao jornal O Globo, Raíza Uzeda, aluna de Direito da UERJ e membro do coletivo negro da faculdade, o primeiro incidente ocorreu no sábado, ao final de uma partida de futebol masculino entre os times da PUC e da UCP. Uma jovem que pertencia à torcida da PUC teria jogado uma casca de banana sobre um jogador da equipe adversária.

Ela conta que o aluno da UCP envolvido deixou Petrópolis no sábado, um dia antes do fim do torneio, para retornar à sua cidade-natal: “Ele está muito abalado, muito triste. Estava tão mal que foi embora”, relatou.

A repercussão nas redes sociais e no próprio evento foi grande. No vídeo abaixo, atletas fazem ato contra o racismo durante os jogos e entoam a frase “racistas não passarão”:

Apesar das inúmeras críticas, uma aluna da PUC-Rio acusada pelos estudantes da UERJ de praticar crime de racismo disse durante o episódio: “Olha o meu rosto, você acha mesmo que eu vou ser presa?”, conforme reportagem do jornal O Dia.

Segundo o movimento Jogos Sem Racismo, a Liga Jurídica Estadual determinou punições à delegação da PUC. No primeiro momento, com multa de R$ 500 e suspensão da torcida em um jogo. Mas, com a reincidência, o título de campeão geral foi retirado da PUC e a delegação da universidade foi suspensa por um ano, ficando afastada dos Jogos Jurídicos Estaduais de 2019.

É preciso destacar a importância da política de cotas raciais nas universidades. Com os sistemas de cotas, o número de negros matriculados em universidades quase dobrou na última década – passou de 5,5% da população para 12,8%. Bem pouco se comparada à parcela branca: 26,5% desses jovens cursam nível superior.

Todavia, mesmo com um maior acesso às instituições de ensino superior, os estudantes negros ainda precisam enfrentar o racismo que perdura nos outros alunos tanto no espaço universitário quanto nos jogos.

Diante do fato, a campanha Jogos Sem Racismo declarou:

“Não podemos chamar isso de uma vitória nossa, em meio a tanta dor que sentimos. Infelizmente, na madrugada de ontem (03/06), nos dirigimos mais uma vez enquanto campanha à reunião oficial da Liga Jurídica Estadual, que organiza os Jogos Jurídicos, para manifestar novamente nossa indignação com os violentos crimes de racismo ocorridos durante o evento”, diz em nota.

“Esperamos, ao menos, que essa dor descomunal se revele uma oportunidade para que TODAS as Faculdades de Direito repensem suas práticas e tornem os Jogos um ambiente mais inclusivo. Seguimos! Povo preto unido é um povo preto forte!”.

Os Jogos Jurídicos Estaduais no Rio de Janeiro acontecem todo ano e os relatos de torcidas que entoam cantos preconceituosos são antigos, conforme relatou o jornal O Globo. Desde o ano passado, alunos da Uerj se queixam de expressões racistas da delegação da PUC, pelo menos, desde o ano passado.

Raíza é uma das fundadoras de uma campanha criada há um ano para extinguir o racismo da competição. Segundo ela, também aconteceram casos de homofobia neste ano, mas os mais graves foram os de racismo.

Confira na íntegra a nota da campanha Jogos Sem Racismo sobre os Jogos Jurídicos Estaduais 2018:

Como bem sabemos, os jogos jurídicos universitários nunca foram um espaço confortável para pessoas negras. Vir para se divertir e torcer sem muitas preocupações sempre foi — e ainda é — um privilégio que apenas as pessoas brancas possuem.

Diante de tudo que aconteceu nos Jogos Jurídicos de 2018, não podemos chamar isso de uma vitória nossa, em meio a tanta dor que sentimos.

Infelizmente, na madrugada de ontem (03/06), nos dirigimos mais uma vez enquanto campanha à reunião oficial da Liga Jurídica Estadual, que organiza os Jogos Jurídicos, para manifestar novamente nossa indignação com os violentos crimes de racismo ocorridos durante o evento.

Na madrugada do dia 02/06 já havíamos comparecido à reunião, oportunidade em que dialogamos com a Liga SOLICITANDO uma resposta à altura do crime ocorrido — quando uma componente da delegação da PUC – Rio jogou uma casca de banana em um jogador negro da UCP.

Acordamos no dia seguinte com a notícia de que, diante de um crime, a Liga havia punido a Atlética da PUC – Rio apenas com o compromisso de elaboração de uma breve nota, o pagamento de uma multa irrisória de R$500,00 e a suspensão da torcida em um jogo sem expressividade alguma.

Ao longo deste dia (03/06), a delegação da PUC – Rio foi protagonista de mais dois episódios de racismo. No primeiro, após um jogo de Basquete Masculino, membros da delegação da PUC-Rio imitaram macacos para ofender estudantes da UERJ. Já o segundo consistiu em uma injúria racial destinada a uma atleta da UFF, em que membros da delegação da PUC – Rio chamaram-na de "macaca".

Diante disso, hoje a campanha Jogos sem Racismo, bem como os coletivos Negros Patrice Lumumba (UERJ), Caó (UFF) e Cláudia Silva Ferreira (UFRJ – FND) decidiram não mais pedir e sim EXIGIR à Liga que:

1 – Não haverá campeão geral dos Jogos Jurídicos Estaduais de 2018. O título não será da PUC – Rio, nem de nenhuma outra faculdade participante. Diante da edição mais triste dos últimos tempos, não há espaço para o esporte frente ao luto que estamos sentindo.

2 – A PUC – Rio esteja suspensa pelo período de 1 (um) ano, não podendo jogar nenhuma competição em 2018.2 e sendo completamente afastada dos Jogos Jurídicos Estaduais 2019.

3- A Atlética da PUC – RIO e a Liga se comprometam a fazer com que esse ano de suspensão seja um período de intenso trabalho de didática antirracista para nossas atléticas e torcidas.
Além disso, a atlética da PUC – Rio recebeu durante a reunião uma notificação formal solicitando colaboração irrestrita com a identificação e eventuais investigações criminais instauradas contra os agressores.

A Liga Universitária acatou todas as nossas exigências.

Hoje, depois do que podem ter sido os quatro mais dolorosos dias das nossas vidas enquanto negros estudantes de direito, pudemos começar a fazer justiça com nossos atletas, torcedores e torcedoras agredidos.

Esperamos, ao menos, que essa dor descomunal se revele uma oportunidade para que TODAS as Faculdades de Direito repensem suas práticas e tornem os Jogos um ambiente mais inclusivo.

Seguimos! Povo preto unido é um povo preto forte!