Sob a fachada de manifesto, FHC tenta vitaminar campanha de Alckmin

Com o sistema financeiro cobrando uma solução rápida para as eleições de outubro, a direita aperta o botão de emergência para correr contra o tempo e apresentar um candidato com condições de decolar nas pesquisas. Sem candidato, o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso lançou uma "manifesto" para tentar articular o que ele chama de partidos de centro: PSDB, MDB (de Temer), DEM e PTB.

Fernando Henrique Cardoso

"Depois do lançamento, vamos buscar em junho bilateralmente cada um dos candidatos. Esse campo vai dos liberais, como João Amoedo (Novo) e Flávio Rocha (PRB), passa por Paulo Rabelo de Castro (PSC), Rodrigo (Maia), Alckmin e Alvaro Dias (Podemos) – e, no limite, vai até a Marina Silva (Rede)", disse o deputado Marcus Pestana, secretário-geral do PSDB ao Estadão.

Sob a fachada de "manifesto", o documento intitulado "Por um polo democrático e reformista" tenta vitaminar a campanha de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, que não consegue emplacar nas pesquisas e já era rifado por integrantes da legenda e aliados.

As pesquisas são como uma pá de cal no plano do golpe encabeçado pelos tucanos, que acreditaram que o impeachment da presidenta Dilma e a prisão de Lula pavimentaram o caminho para a eleição em 2018.

Mergulhado em denúncias e réu no Supremo Tribunal Federal, o senador Aécio Neves (MG), que sonhava com essa eleição, sequer confirmou se vai disputar a vaga para o senado. Nem mesmo campanha para o seu afilhado, Antonio Anastasia, ao governo do estado, ele vai fazer.

Por outro lado, Geraldo Alckmin estagnou nas pesquisas, gerando incerteza sobre o posto de candidatura mais viável da direita. Segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na última segunda-feira (14), o tucano oscilou da banda de 8,6% e 8,7% para a faixa entre 5,3% e 8,1% das intenções de voto, dependendo do cenário considerado. Já a rejeição ao pré-candidato do PSDB cresceu cinco pontos percentuais, para 55,9%. Nas simulações de segundo turno, Alckmin seria derrotado pelo ex-presidente Lula, pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) e a ex-senadora Marina Silva (Rede).

O resultado elevou o clima de tensão nos bastidores da campanha tucana. Até mesmo Michel Temer sentiu espaço para rifar Alckmin ao afirmar que tucanos o procuram com "ânsia".

A estratégia de FHC, que puxou a campanha da judicialização da política e endossou o golpe, é, com o manifesto, criar as condições para um palanque único, encabeçado por um tucano, para disputar a eleição presidencial de outubro, que por enquanto é o Alckmin.

Para elaborar o conteúdo e articular as forças, FHC chamou o moderado ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que está semana chamou ex-chefes de estado europeus de "arrogantes" por defenderem a liberdade de Lula.

Integra a equipe de elaboração o senador Cristóvam Buarque (PPS-DF), e o secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG). A proposta de elaboração do documento foi resultado de um encontro na semana passada com Heráclito Fortes (DEM-PI), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann (PPS-PE), do ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM-PE) e dos deputados Jarbas Vasconcelos (MDB-PE), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Benito Gama (PTB-BA) e Danilo Forte (PSDB-CE).

Segundo o Estadão, a articulação "vem na esteira da movimentação do DEM que tenta firmar uma aliança para barrar uma possível união entre o MDB e o ex-governador e pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin".