Dois milhões de famílias saem da baixa renda

Rendimentos em alta, crédito facilitado e dólar barato permitiram que uma parcela dos brasileiros saltasse das classes — segundo a metodologia oficial — D e E para a C. Consumo nessas casas aumentou 11% nos últimos quatro anos.

As famílias da classe mais baixa brasileira estão com maior poder de consumo e sofisticaram suas compras. Só este ano, do total de 42 milhões de lares pesquisados no país, 2,15 milhões migraram das classes D e E para a C, segundo levantamento da empresa LatinPanel, que mede os hábitos dos consumidores. Os dados da LatinPanel mostram que em 2005 cerca de 44% das famílias estavam nas classes D e E. Este ano, esse número caiu para 39% dos domicílios pesquisados.


 


Entre janeiro de 2003 e agosto deste ano, as famílias com rendimento médio de até quatro salários mínimos (R$ 1,4 mil) compraram 11% a mais em volume e aumentaram em 35% o gasto médio com alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal e de limpeza. O número de categorias da cesta padrão de compras passou de 21 para 27. “A renda média da população teve um ganho e o crédito ficou mais fácil tanto para os bens duráveis quanto para os não-duráveis. Além disso, com a inflação estabilizada, as pessoas podem controlar mais as compras”, afirma Antonio Carlos Perrella, gerente de Atendimento da LatinPanel. Ele acrescenta que, com o dólar mais baixo, a chance de aumento de preço dos produtos é menor.


 



Nos últimos quatro anos, as classes D e E foram campeãs de consumo, segundo a pesquisa. O volume médio consumido pelas famílias de baixa renda foi o que registrou maior expansão: 11%, contra 8% nos lares de classe C e 5%, nos das classes A e B. A cesta padrão das classes D e E passou a contar com os sucos em pó, massas instantâneas, caldos para tempero, esponjas sintéticas, extrato de tomate, salgadinhos, leite longa vida e maionese. O consumidor também está experimentando mais marcas desconhecidas, pois 48% das marcas líderes perderam participação de mercado nos últimos quatro anos.


 


 


Salário mínimo


 


 


A LatinPanel apurou também a expectativa de consumo dos brasileiros para 2007. A casa própria é o maior sonho das classes D e E em caso de melhora da renda. Cerca de 64% desses consumidores que pretendem ir às compras querem destinar recursos para aquisição de imóvel. Em seguida, vêm os eletroeletrônicos (33%), os alimentos (29%), os móveis (18%), os automóveis (14%) e as roupas (14%). Poupança e aplicações financeiras estão presentes nos planos de apenas 11% das famílias.


 


O aumento real do salário mínimo, que em abril passou de R$ 300 para R$ 350, ajudou a engordar o orçamento dos integrantes da classe C brasileira. O aumento real (descontada a inflação) alcançou 13%. Foi o maior valor para o piso nacional desde 1985. Com isso, mudanças de consumo, que foram destaques no início do Plano Real, estão mais evidentes. No setor de alimentos, iogurtes, requeijão, sucos prontos e congelados já fazem parte dos gastos habituais da classe C, além dos itens básicos de alimentação. É comum, também, terem em casa quase todos os lançamentos eletroeletrônicos dos últimos anos: DVD, televisão de 29 polegadas, aparelho celular, microondas e computador. O aumento da capacidade de consumo de grande parte das famílias brasileiras é uma amostra de como a economia do país ganharia dinamismo se realmente pudéssemos contar com um mercado interno de dimensão proporcional à população.


 


Com agências