Zezé elogia Lula e, com Luciano, falam de política e literatura

“Votei no Lula, acredito muito no homem Lula, no cidadão Lula e no presidente… não voto pelas manchetes que saem nos jornais… não precisa nem dizer, são tendenciosos, realmente tomam um lado” diz Zezé, da dupla Zezé di Camargo e Luciano, em entrevista

por Bob Fernandes / Terra Magazine 
 


Eles estão ali para dar uma canja, uma força para o grupo ascendente, não se incomodam com a espera, de uma, duas, quase três horas. A conversa é animada no camarim.


 


Zezé se toca. Um dia, há dez anos, achava “uma babaquice” gravar com Chico Buarque. Claro, as uvas eram verdes, admite hoje, e já está na praça o “Diferente”, o disco novo, em que cantam com Chico, Ivete Sangalo (Veja clipe aqui), e gravaram Freddie Mercury e Beatles.


 


Zezé chega antes de Luciano. A Terra Magazine fala sobre disco novo, preconceito, política, mídia, família. Esse filho de Francisco e Helena entende que Lula, o presidente – para quem fizeram showmícios na campanha de 2002 – é vítima do mesmo tipo de preconceito que enfrentam ele, o irmão, os sertanejos, os que são, cantam, o que é, do que gosta o “outro” Brasil. O “Brasil profundo”, como costumam dizer os que percebem o País de outro ângulo; quem sabe o da superfície.


 


– Votei no Lula, acredito muito no homem Lula, no cidadão Lula e no presidente… não voto pelas manchetes que saem nos jornais… não precisa nem dizer, são tendenciosos, realmente tomam um lado – diz Zezé.


 


A mídia é outro tema que ele mesmo puxa, antes de atacar:


 


– Na grande mídia nacional ainda existe um preconceito muito grande.


 


Luciano também fala de preconceito. E, talvez como forma de fustigá-lo e a seus vocalizadores, em conversa informal discorre longamente sobre o que gosta de ler – desde o despertar, aos 14 anos, com “Eram os Deuses Astronautas?” – até o agora, um caminho heterodoxo que inclui Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Gabriel García Márquez, gibis, as revistas Carta Capital e Super Interessante e, nesses dias, Klester Cavalcanti, autor de “Viúvas da Terra” – a história da violência agrária no Brasil.


 


Luciano, que fez até o terceiro ano primário, jogou-se de corpo e alma nos projetos do filme “2 Filhos de Francisco” e do livro, a ser lançado no próximo semestre, de autoria de Carolina Kotscho, também roteirista do filme.


 


Ele é um cinéfilo. Sentado em um sofá no camarim, desfia, um a um, os filmes, os diretores de que gosta. Ele, que prefere filmes do “circuito alternativo”, e que chega às salas em cima da hora para escapar ao tumulto. Luciano recebe do jornalista Luis Colombini um exemplar de “Aprendi com meu pai”. Da Editora Versar, dele, Colombini, o livro conta a lição mais importante que 54 pessoas “bem sucedidas” receberam do pai. Francisco é um desses pais.


 


Ao lado da mulher, Zilu, Zezé discute os rumos da internet com o irmão, acalorado debate interrompido pela chegada de Chitãozinho e Xororó. Abraços, apertos de mão dos sertanejos. Alguma diferença entre as duplas, e ela não está apenas na companhia a Chico Buarque, Ivete Sangalo, Beatles, Freddie Mercury, literatura, política e cinema.


 


Alguma coisa, a manifestação física desse contraste, pode ser percebida pelo embate entre os cabelos escorridos, à “mullet”, de Chitão e Xororó, e o cabelo de Zezé, espetado, com gel. Diferença também nos jeans da hora de Zezé e Luciano, nas mangas de camisa dobradas dos irmãos Camargo, que deixam à mostra os braços malhados e o cuidado geral com a manutenção.


 


Arleyde, a assessora, porta-voz e amiga, avisa:


 


– É para subir ao palco daqui a dois minutos.


 


Top, seios quase à mostra, microssaia em belas pernas, uma morena de ocasião faz caras e bocas, nos seus 17 anos, à porta do camarim. Mas não é hora para isso, e ela não é notada. Risos, vozes em alta, os irmãos ainda debatem a internet, a caminho do palco.


 


Eles estão de bem com a vida.


 


*Colaborou Thaís Bilenky