Países discutem experiências de aproveitamento da mandioca

Cientistas e representantes de 30 nações estão reunidos em Brasília para discutir experiências realizadas em seus países no cultivo e aproveitamento da mandioca. O objetivo é trocar informações sobre pesquisas feitas não só no aperfeiçoamento nutricion

O 1º Congresso Internacional de Melhoramento, Biotecnologia e Ecologia da Mandioca foi aberto hoje (12) pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e prossegue até o dia 15 de novembro. O evento conta com a participação de vários órgãos governamentais e foi patrocinado ainda pela Universidade de Brasília (UnB).


 



O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Sílvio Crestana, ressaltou que a mandioca pode ser usada na alimentação animal e humana, fabricação de adesivos, papel e celulose, na indústria farmacêutica, fabricação de corantes e, até mesmo, da cerveja. Várias pesquisas estão sendo desenvolvidas pela empresa.


 


Crestana ressaltou a possível utilização da mandioca também na produção de etanol (álcool combustível). ''No momento em que a produção de energias alternativas está na pauta mundial , esta pode ser uma excelente opção que não podemos perder na área de pesquisa'', afirmou o presidente da Embrapa aos pesquisadores que participam do evento.


 



A grande tolerância à seca faz da mandioca uma importante alternativa agrícola para o Nordeste, que ainda tem uma produtividade relativamente baixa em relação a outras regiões do país. Enquanto a produtividade média do país é de 14 toneladas por hectares, 76% dos agricultores nordestinos produzem menos de 10 toneladas, afirmou o presidente da Embrapa. ''A gente sabe que, para que tenha produtividade alta no semi-árido é preciso ter convivência com a seca ou trabalhar a questão da irrigação'', ressaltou Sílvio Crestana. Segundo ele, a empresa já desenvolve cultivares adaptados ao clima do semi-árido e outros estão em fase de pesquisa.


 


A Índia, por exemplo, produz 28 toneladas do produto por hectare. Apesar da sua produtividade estar abaixo de outros países, o Brasil tem uma grande área plantada e, por isso, é o segundo país do mundo com maior produção de mandioca. Perde apenas para a Nigéria que, apesar de ter uma produção por hectare menor que a do Brasil – 9 toneladas – é o maior produtor mundial.


 


A ministra do Meio Ambiente lembrou que a mandioca é importante na alimentação de comunidades de baixa renda dos países tropicais. Destacou ainda o trabalho de pesquisa de enriquecimento nutricional desenvolvido pela Embrapa, que já produz mandiocas ricas em betacaroteno, substância rica em vitamina A. ''Ela (mandioca) contribui efetivamente para a melhoria das condições de vida das pessoas, para a melhoria das condições sociais da população de baixa renda'', afirmou a ministra. Acrescentou que o Brasil possui 10 centros de estímulo ao cultivo deste tubérculo, o que envolve mais de 10 mil famílias.


 


Fécula de mandioca com farinha de trigo


 


Um dos projetos mais comentados para ampliação do uso da mandioca, no Brasil é de autoria do deputado federal e atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O Projeto de Lei nº 4679 de 2001 prevê a obrigatoriedade da adição de 10% de fécula de mandioca à farinha de trigo, utilizada, entre outras finalidades, na produção do pão francês.


 


Na justificativa do projeto, Aldo argumenta que ''Um estudo da Câmara Setorial da Mandioca, de São Paulo, mostra que a cultura no estado está nas mãos de micros e pequenos produtores, com área média de 3,2 hectares. A área de plantio poderia multiplicar-se espetacularmente além do total nacional de 2 milhões de hectares, que nos tornavam o segundo produtor mundial, com 24,5 milhões de toneladas em 1996. Naquele ano, a Nigéria estava em primeiro lugar, com área de 3 milhões de hectares e produção de 34,6 milhões de toneladas''.


 


O texto diz ainda que ''O país já esteve perto da auto-suficiência de trigo, nos anos 80, mas hoje importa 75% do que consome, ou seja, 7 milhões de toneladas, ao custo, em 1999, de 850 milhões de dólares. Além da grande repercussão na cadeia produtiva, a adição de produtos da mandioca ao trigo implicaria, portanto, economia de divisas externas e aumento da renda interna.''


 



Sublinhe-se novamente que a mandioca é produto nacional, cultivado em todo o território, com baixa exigência de qualidade de solo, tecnologia de produção simples, capaz de ser produzida e beneficiada por uma grande gama de produtores, desde os de menor porte econômico. Sua valorização como cultura teria, assim, importante cunho social. O fomento dessa cultura estimularia a democratização da economia agrária brasileira.


 


Considerando-se a dependência externa do abastecimento de trigo, os gastos com sua importação, e, de outro lado, a condição favorável ao cultivo e à industrialização da mandioca e, finalmente, a existência de tecnologias de fabricação de pães, massas e biscoitos com farinha de trigo misturada com farinha de raspa ou fécula de mandioca, nada mais natural que o Brasil ouse determinar uma política pública voltada à valorização do produto nacional e à racionalização do uso de insumos na indústria alimentícia.


 


Ainda segundo o projeto, dada a história da mandioca, não é novidade a inclusão de fécula ou raspa na produção de pães, massas, biscoitos e outros produtos classicamente feitos com trigo. Ademais, a tecnologia de mistura de outras farinhas à farinha de trigo tem sido expressivamente desenvolvida no Brasil. Estudos conduzidos pela Embrapa, no Rio de Janeiro (Embrapa – Agroindústria de Alimentos) e pela Universidade de Campinas, no Ital – Instituto de Tecnologia de Alimentos, têm demonstrado que é bem-sucedido o preparo de pães, biscoitos e massas com trigo que contenham até 20% de mistura de farinha de raspa de mandioca ou de fécula. Estudos também mostram que é possível a mistura, com os mesmos fins, de outras farinhas, tais como de milho, de sorgo ou de soja, em diferentes percentuais.


 


''Tal mistura, obviamente demanda ajustes na tecnologia de produção, no uso de outros ingredientes como água ou gorduras, enfim, pequenas adaptações, viáveis em qualquer estabelecimento industrial, resultando produtos com características organolépticas, de qualidade, de conteúdo nutricional, de paladar e aceitação pelo consumidor'', complementa a justificação do projeto.


 


Da redação,
com informações da Agência Brasil