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Adalberto Monteiro: Duas Vezes

Guerras, golpes de estado, desencontros,
matrimônios, atribulações do ofício,
concubinatos,
regência de astros perversos,
o fato é que, nestes 15 mil dias de paixão por ti,
apenas duas vezes tive a fortuna
de deitar-me contigo.


 


 


A primeira,


 


 


tanto te idolatrara,
tu, tão impossível de mim,
que meu antigo romantismo
goethiano
alvareazevediano
já havia ido ao Vaticano
e conseguido com
o auxílio do antigo PCI
tua canonização.
Assim, trepar contigo
foi comer uma santa,
um misto de gozo
e devoção.


 


 


A segunda


 


 


foi romper do Ano 2000:
muitas dificuldades, compromissos de família,
pressão de amigos e megaespetáculos
para humanidade saudar o terceiro milênio.
Mas uma jura havia sido feita
e nem que requeresse sangue
seria honrada:
romperíamos o terceiro milênio
sob a regência de Eros.
Tudo combinado.
Havia conquistado avanços significativos
no controle de ejaculação precoce.
Faltando 5 minutos para o terceiro milênio,
iniciamos 300 bombadas, em pares de dez,
masculinas e femininas,
e quando o mundo explodiu em fogos,
em espocar de champanhes,
se embriagando
de vinho, vodca, tequila, raki, cachaça,
conhaque, uísque,
enquanto o papa, os presidentes
emitiam suas mensagens,
eclodiu o gozo
saudando os dois mil anos
do nascimento de Cristo.


 


 


Verbos do Amor & Outros Verbos – Adalberto Monteiro.