Matar sem-teto, a nova “diversão” dos jovens americanos

Há quase dez anos, um grupo de quatro jovens de classe média de Brasília (DF) chocou o Brasil ao incendiar e matar o índio pataxó Galdino de Jesus – que dormia em um ponto de ônibus da capital brasileira. Agora, atos de barbárie semelhante têm sido pratic

Em alguns exemplos da prática – conhecida como “bum-hunting” (caça aos vagabundos) -, uma mulher que dormia em um cais foi jogada no rio e morreu afogada. Um homem foi morto a golpes de tacos de beisebol. Outro, preso a uma cadeira de rodas, teve o corpo incendiado. Advogados dos sem-teto e criminologistas afirmam que nos últimos cinco anos a prática causou a morte de um sem-teto por mês.


 


Durante o ano, 16 pessoas sem lar foram assassinadas nos Estados Unidos, muitas delas pelas mãos de adolescentes. Os advogados sustentam que o aumento da violência pode, em parte, ser atribuída à popularidade crescente dos vídeos chamados “Bumfights” (lutas de vagabundos) – e de vídeos de imitação que mostram pessoas sem-teto ou “bums” sendo agredidos, sofrendo abusos e humilhações.


 


“Quando saiu 'Bumfights', vimos um forte aumento no número tanto de ataques não-letais contra os sem-teto, quanto de assassinatos”, disse Michael Stoops, diretor-executivo da associação nacional para os sem-teto. “Estes filmes definitivamente influenciam os jovens. O passo lógico seguinte depois de ver um filme 'Bumfights' é sair e dar uma surra no vagabundo local. Isto é o que os adolescentes pensam”, acrescentou.


 


Violência extrema
Os DVDs de “Bumfights”, que custam em média 20 dólares, foram criados por um jovem de 18 anos que vendeu os direitos da série por 1,5 milhão de dólares pouco depois de lançá-la, em 2001. Nos últimos cinco anos foram vendidas 300 mil cópias.


 


Os vídeos mostram Rufus Hannah, um homem sem-teto, apelidado de “Rufus, the Stuntman” (Rufus, o dublê), batendo sua cabeça contra uma pilha de caixas, fazendo outras proezas perigosas ou lutando com seu melhor amigo, outro sem-teto. Os produtores dos vídeos “me embebedavam e depois, basicamente, conseguiam com que fizéssemos tudo o que precisavam”, contou Hannan, que deixou as ruas e agora tem um emprego na Califórnia. Ele afirmou que recebia alguns poucos dólares por cada representação.


 


Para Brian Levin, diretor do Centro para o Estudo do Ódio e o Extremismo da Universidade estadual da Califórnia, os vídeos inspiram adolescentes que buscam excitação e emoção. “Agora existe na cultura americana este conceito de emoção e diversão extremas. Por isto se vêem tantos esportes extremos, mas também violência extrema”, disse Levin


 


Conscientização
Ele e Stoops afirmaram que se está tentando conscientizar a população sobre o tema e para pressionar o Congresso para reforçar a legislação sobre crimes vinculados ao ódio para que incluam os sem-teto. Estima-se que haja 800 mil sem-teto dormindo ao relento nos Estados Unidos.


 


“Em muitos aspectos, temos melhores leis contra o abuso de animais do que contra a violência contra os sem-teto”, disse Levin, acrescentando que espera que os adolescentes encontrem outra forma de canalizar sua energia.