Intelectuais latino-americanos manifestam apoio a Lula

Alguns intelectuais latino-americanos ligados a movimentos populares e organizações sociais da região divulgaram na semana passada uma carta aberta dirigida à população brasileira. No texto, eles expressam a necessidade da vitória de Lula no próximo dia 2

A carta reforça a idéia-chave do Fórum Social Mundial, a respeito de que outro mundo é possível. Para tanto, os intelectuais defendem que a eleição de Geraldo Alckmin dificultaria a luta em busca de uma sociedade menos desigual.



Confira abaixo a íntegra da carta aberta:



Os abaixo assinados somos organizações sociais, movimentos ativistas e intelectuais identificados com a esquerda e com as lutas populares do povos contra o neoliberalismo e por um outro mundo possível, tanto na América Latina como em outras partes do mundo. Nos dirigimos aos eleitores brasileiros porque entendemos que nas atuais eleições do Brasil estão em jogo assuntos fundamentais não apenas para o país, mas também para o futuro das lutas populares em todo o planeta.



Temos visões e avaliações diversas em relação ao primeiro governo de Lula. Alguns, inclusive, temos sérios desacordos com aspectos centrais de algumas de suas políticas, como a lentidão da reforma agrária e a prioridade dada ao agronegócio. No entanto, isso não nos leva a concluir, de modo algum, que seja irrelevante quem vença o segundo turno.
 


Muito pelo contrário: as conseqüências de uma vitória do candidato da direita seriam muito graves.
 


Não queremos nos referir aqui fundamentalmente às conseqüências ao povo brasileiro. São conhecidos no debate político brasileiro os efeitos que uma vitória da direita teria para assuntos-chave, como a privatização da Petrobras e demais empresas públicas; a reorientação das políticas sociais e o nível do salário mínimo; a privatização da educação, o incremento da desigualdade e da exclusão social, assim como a criminalização da organização e de protestos populares.
          


O que desejamos destacar são as sérias conseqüências internacionais que teriam uma vitória da direita no Brasil.



Um governo de direita retomaria as negociações da Alca, aspecto fundamental da política imperial do governo dos Estados Unidos. A derrota da Alca foi a vitória mais importante que os movimentos sociais conquistaram contra a globalização neoliberal nas últimas décadas e ela seria mortalmente ameaçada por um governo de direita, encabeçado por um dirigente que não tem compromisso algum com os movimentos populares do Brasil ou da América Latina.
 


Um governo de direita daria prioridade às relações com os mercados e capitais internacionais, em detrimento da integração política e geoeconômica latino-americana. Reforçaria dessa maneira o domínio imperial dos Estados Unidos sobre todo o continente.
 


Um governo de direita não haveria dado ao governo venezuelano o apoio político com o qual o Brasil contribuiu para derrotar os diversos intentos golpistas de setores da oposição, apoiados pelo governo Bush, contra Chávez. As ameaças imperiais contra o processo político da Venezuela não cessou.



Um governo de direita poderia contribuir com os intentos desestabilizadores que a direita boliviana e o governo Bush impulsionam contra o processo popular encabeçado por Evo Morales. Na Bolívia se joga, atualmente, em muitos sentidos, o futuro da América Latina.
 


Concluindo, uma vitória da direita nas eleições brasileiras teria por conseqüência um fortalecimento da estratégia imperial norte-americana, e um enfraquecimento tanto da organização como das lutas dos movimentos populares, como dos projetos políticos de governos de esquerda e centro-esquerda, que com suas significativas diferenças representam hoje a busca de alternativas à ordem neoliberal e imperial na América Latina. Não é pouca coisa.



Fazemos um chamado para que, com seu voto, você contribua para a derrota de Alckmin,



América Latina, 16 de outubro de 2006.



Edgardo Lander (Venezuela)
Atilio Borón  (Argentina)
Elmar Alvater (Attac, Alemanha)
Marta Harnecker (Venezuela)
Raúl Zibechi (Uruguai)
Joel Suarez (Cuba)
Pablo Solon, Bolívia