Um gaúcho pra discutir com madame Yeda Cruzius

O verdadeiro jingle de Yeda Crusius candidata tucana ao governo do Rio Grande do Sul, bem poderia ser o samba “Pra que discutir com Madame”, de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida: “Madame diz que a raça não melhora / Que a vida piora / Por causa do samba”

Ora, já que estamos diante de circunstâncias absolutamente estranhas ao debate político programático nas eleições no RS. O estrambólico debate proposto pelos meios de comunicação gaúchos é se o governador deve ser homem ou mulher. Cria-se uma crise  na consciência do voto. As pessoas  andam pelas ruas a  se perguntar  se estão votando corretamente se votarem num homem para governar o estado.



É  pois, votar em mulheres  virou mérito, coisa de pessoas mais esclarecidas e até mais “avançadas”, por aqui  no Rio Grande, segundo essa campanha.



As elites gaúchas parecem ter descoberto a origem do mundo, da pólvora, ao indicar o voto numa mulher para governar o estado. É tão impressionante o impacto causado neles, que a campanha nos telejornais da RBS e nos artigos do jornal Zero Hora se tornou ridícula. Uma espécie de guerra dos sexos.



Da parte deles, descobriram  que as mulheres pensam e podem participar da política em cargos executivos. Uma descoberta tardial além  desesperada e oportunista por parte do conservadorismo gaúcho, pois este já é um debate absolutamente ultrapassado no mundo ocidental.



Este tipo campanha é para despolitizar e enfraquecer o debate de projetos. A candidatura tucana ao Palácio Piratini  é articulada por estes grandes meios de comunicação do estado. A imagem propagandeada é de uma espécie de grande novidade, ser mulher. É como se estivéssemos numa roda entre amigos conversando sobre futebol e um gaiato que quer se impor diz: Bom mesmo não era nem o Falcão nem o Zico, o cara é um fulano que jogava no  Esporte Clube Pelotas em 1981 e que o Tele não quis levar para a copa da Espanha  em 82.  



De Porto Alegre,
Enilson Gonçalves



E a letra completa do samba de 1956:



“Madame diz que a raça não melhora
Que a vida piora
Por causa do samba
Madame diz que o samba tem pecado
Que o samba é coitado
Devia acabar
Madame diz que o samba tem cachaça
Mistura de raça, mistura de dor
Madame diz que o samba é democrata
É música barata
Sem nenhum valor
Vamos acabar com o samba
Madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que o samba é vexame
Pra que discutir com Madame
No carnaval que vem também com o povo
Meu bloco de morro vai cantar ópera
E na avenida entre mil apertos
Vocês vão ver gente cantando concerto
Madame tem um parafuso a menos
Só fala veneno
Meu Deus que horror
O samba brasileiro, democrata
Brasileiro na batata é que tem valor.”