Conheça o Aerolu Alckmin, que custa R$ 350 mil em 8 dias

Por Bernardo Joffily e Humberto Alencar
O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB-PFL) gosta de ''fazer as contas'', como mostra o seu programa no rádio e na TV; principalmente quando o assunto é avião. O Vermelho mostra aqui alguns númer

A pista sobre o Aerolu foi levantada na noite de sexta-feira (20), quando o Cessna, fabricado nos EUA, pousou no Aeroporto Internacional de Rio Branco. O inusitado do reluzente jatinho e sua ilustre passageira, na modesta pista de pouso da capital acreana, mexeu com os brios do colunista do Vermelho e deputado estadual Moisés Diniz (PCdoB).


 


Munido de uma foto para documentar o flagrante, Moisés disparou para o portal do galo: ''Voando a 789 km/h, o jatinho de dona Lu é bem mais rápido do que o táxi de seu marido'', numa alusão ao franciscano hábito de Geraldo Alckmin, que vestiu ''as sandálias da humildade'' e faz campanha de táxi (clique aqui para ver Gente fina: Alckmin anda de táxi, mas dona Lu vai de jatinho).



A maratona de Lu, quanto custa?



Uma viagem São Paulo-Rio Branco-São Paulo em um Cessna Citation V leva 8 horas e quarenta e seis minutos de vôo e, com pernoite, custa R$ 93.220, segundo a Tam Jatos Executivos, que representa a Cessna no Brasil e fornece esse serviço. O preço é cobrado por quilômetro de vôo, mais o pernoite do avião, do comandante e do copiloto.



Lu Alckmin, porém, não vinha de São Paulo quando pousou em Rio Branco. A candidata a primeira dama está desde terça-feira passada, e até terça 24, percorrendo nestes oito dias dez estados do Norte e Nordeste, em campanha solo.



Ela dividiu tarefas com o esposo, Geraldo, como é chamado por Lu, e agora por sua campanha eleitoral (os marqueteiros concluiram que Alckmin não tem a mesma empatia). Ele tem percorrido o sul: neste fim de semana, passou por Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, no esforço para estancar uma evasão de votos que ameaça sua supremacia. Ela, coitada, ficou com a pedreira: percorre as capitais dos estados mais distantes, quentes, pobres, e, o que é pior, mais lulistas.



Um carona na mira do MP



Na terça ela estava no Recife; caminhou pelas ruas do centro.
Quarta voou para Teresina, onde caminhou pelo centro e pelo bairro Poty Velho, debaixo de 38 graus à sombra; mas ainda deu esticadas às cidades de Parnaíba e Cocal.



Quinta foi a vez da Paraíba, Campina Grande e João Pessoa; mesmo esquema.
Sexta, desembarcou em Porto Velho, acompanhada do deputado federal Hamilton Casara (PSDB-RO), que pegou carona no jatinho.



Vale aqui um parêntese sobre o acompanhante de Lu Alckmin: Casara e parentes seus foram denunciados pelo Ministério Público Federal, numa ação civil por improbidade administrativa. A ação acusa-o de ter contratado, como secretária parlamentar em Brasília, recebendo da Câmara dos Deputados, uma empregada doméstica que trabalha na casa de seu irmão Astrobaldo Casara, em Porto Velho. A moça nem sabia que fora contratada e, naturalmente, não viu um centavo do salário.



O MP pede a perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa, proibição de contratar com o Poder Público e dele receber benefícios fiscais ou creditícios, ressarcimento de danos experimentados pelo erário e ainda perda dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio dos réus. Casara contesta que “as acusações são levianas e foram feitas por coordenadores da campanha do PT no Estado”.



''Foi engraçado ver madame''



Lu Alcmin, que é solidária, deu outra carona ao deputado tucano no Cessna Citation, até a escala de Rio Branco.



Na capital acreana, não foi apenas Moisés Diniz que reparou no inusitado da visita. Sob o título Madame no camelódromo, o jornalista La Fontaine comentou em sua coluna: ''Foi engraçado ver madame Lu Alckmin andando pelo Calçadão da Benjamin Constant em direção ao Terminal Urbano. Certamente, como é muito fina, não comprou nada dos camelôs que trabalham no local. O mais correto seria se a mulher de Geraldo Alckmin tivesse sido levada para uma reunião com os empresários.''
Sábado de manhã, Manaus; Lu distribuiu santinhos e sorrisos pelo centro, mas a caminhada, marcada para as 8h30, começou com duas horas de atraso, que ninguém é de ferro.



Ontem e hoje (segunda, 23), Lu Alckmin recupera as forças, num merecido e reduzido descanso em São Paulo. Porém na terça-feira, ela estará em Belém do Pará, com visita a artesãos, e ''minicarreata''. Sua agenda inclui ainda a Bahia e o Maranhão.



O Aerolu, um jatinho simples



É um longo itinerário de 20.100 quilômetros, meia volta ao mundo, mais de 25 horas de vôo mesmo a 789 km/h. Um sacrifício para a ex-primeira dama de São Paulo, que ganhou celebridade no episódio dos 400 vestidos que ganhou de presente do estilista Rogério Figueiredo (clique aqui para ver Alckmin e os 400 ''vestidinhos'' de dona Lu).



É compreensível que uma tão penosa maratona exija um mínimo de conforto e infraestrutura. Os vôos para lugares assim muitas vezes não dispõem de primeira classe. Para fazer a viagem em classe econômica o preço sairia em torno de R$ 9.600, mas o sacrifício se tornaria insuportável.



Foi providenciado então o Aerolu. Nada de suntuoso, um jato executivo de oito lugares (piloto, copiloto e seis passageiros), com um mínimo de autonomia, 5 horas de vôo ou 3.426 km, para os longos percursos.



O avião fretado, prefixo PT-FTB (como se pode ver na foto), por acaso acaba de ser vendido, de forma que se conhece o seu valor aproximado: US$ 3,9 milhões, ou R$ 8,3 milhões. Nada como o Aerolula, esse jato de luxo, que a FAB adquiriu por US$ 56,7 milhões, ou R$ 120,9 milhões, ao câmbio de hoje.



Saiu um pouco mais caro: em vez dos R$ 9.600 dos vôos de carreira, foram R$ 350 mil. Mas, afinal, o que está em jogo nestes dias é a Presidência da República. Uma despesa de R$ 350 mil para passar oito dias viajando, em companhias como a de Humberto Casaro, está mais que razoável, não é?



O guarda-roupa da viagem



Lu Alckmin não tem usado vestidos de grife na maratona. Preferiu algo bem básico, calça jeans e uma camiseta azul com amarelo, em que destaca o número 45 e o nome de Geraldo Alckmin.



A candidata a primeira dama tem sempre essa sensibilidade. Na inauguração da Daslu, em junho de 2005, conforme o delicioso relato da colunista Mônica Bérgamo, Lu Alckmin, que compareceu com o marido, usava uma bolsa Chanel e blusa Burberry, que ela justificou explicando que gosta ''de peças clássicas''. Mas logo, relata a jornalista, Lu ''teve que correr para o Palácio dos Bandeirantes. Precisa se trocar, 'colocar um jeans', para outro compromisso: um evento na Água Branca em que caminhões de vários bairros entregarão agasalhos doados para as crianças pobres'' (clique aqui para ver mais, em A filha de Alckmin e o contrabando na Daslu).