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Movimentos sociais e arte engajada

Por Carlos Gustavo Yoda
A Teia foi além da proposta de ser uma mostra da diversidade cultural brasileira, através do projeto Cultura Viva do MinC. A articulação dos movimentos sociais através dos pontos de cul

A Teia — A Rede de Cultura do Brasil, realizada de 6 a 9 de abril em São Paulo, foi além da proposta de ser uma mostra da diversidade cultural brasileira, através do projeto Cultura Viva do MinC. A articulação dos movimentos sociais através dos pontos de cultura já aponta resultados do trabalho em rede. Mas lideranças dos movimentos culturais do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da União Nacional dos Estudantes (UNE) decretam que não há sentido na produção cultural se não a do engajamento político e comprometimento com a transformação das pessoas e da sociedade.

 

Célio Romualdo, do setor de cultura do MST de São Paulo, entende que é difícil debater o assunto e que a dificuldade no campo é maior ainda. Apesar disso, ele afirma que não existem diferenças entre os trabalhadores do campo e da cidade: “Nossas aflições são as mesmas. Precisamos acabar com essa divisão e unir-nos. Unir-nos na condição de trabalhadores. E precisamos refletir isso nas nossas produções culturais”.

 

O MST ganhou edital de 16 pontos de cultura do Ministério, que estão espalhados em 10 estados brasileiros. Romualdo enfatiza a necessidade de articulação dos movimentos pensando nas produções artísticas de forma engajada. “A burguesia nunca criou cultura. Eles criam a moda, a pasteurização. Mas do funk ao samba, são manifestações do povo. A arte tem que ser comprometida com as questões sociais. Se não houver enfrentamento dos problemas e da indústria cultural, estaremos a repetir o mais do mesmo”, pontua o sem terra.

 

A inversão da ordem cultural é essencial para Romualdo. Somente pensando em como refuncionalizar o mercado é que os trabalhadores poderão recuperar a cultura que lhes foi roubada. “Às vezes, um artista até acha que está fazendo uma coisa boa mas, no fim, está contribuindo para a roda”.

 

O diretor de Cultura da UNE, Thiago Alves, afirma que o movimento estudantil tem uma grande tradição nos movimentos culturais. Alves destaca as experiências do Centro Popular de Cultura, os CPCs da UNE, nos anos 60, que tiveram um papel importante no combate à ditadura militar.

 

Os tempos são outros, e a entidade precisou rever os conceitos e formas de trabalhar com a arte e a cultura. “O movimento cultural hoje tem uma dinâmica própria. Não podemos trabalhar de cima para baixo. Por isso criamos o CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte). Ele segue com uma dinâmica diferente do movimento estudantil. Mais espontâneo e mais amplo. Apenas tomamos o cuidado de pautar o debate político maior, partindo da discussão de políticas públicas culturais”, enfatizou Alves.

 

A UNE tem 10 pontos de cultura, em 10 estados. Sobre o projeto do MinC, Thiago Alves acredita que o Cultura Viva esteja invertendo o foco da produção cultural brasileira. “Um exemplo simples disso é o fato da TEIA ter sido realizada na Bienal de São Paulo, um espaço tradicional da burguesia paulista. E, nesses quatro dias, nós, movimentos, ocupamos a Bienal com muita riqueza e diversidade. Tomamos posse daquilo que é nosso. Isso já é sinal de mudanças, sem contar o poder de articulação dos movimentos sociais através da arte”.

 

Thiago Alves, no entanto, crê que o principal foco dos pontos de cultura deva ser a juventude: “O Cultura Viva deve servir aos jovens. Para levá-los à luta política. Não há sentido na arte da periferia se não for para lutar contra essa condição periférica e excluidora”.