Equador: mesmo dividida, esquerda lidera com Rafael Correa 

Últimas pesquisas apontam que a esquerda será responsável pela principal surpresa do primeiro turno presidencial neste domingo (15) com a liderança de Rafael Correa. A direita deve levar o outro candidato ao segundo turno, o mega-empresário Álvaro Noboa.

A esquerda equatoriana entra dividida nas eleição presidencial que ocorre no país andino neste domingo, dia 15. Pelo menos três candidatos procuram representar perfis mais nítidos do campo progressista no Equador. Um deles, o economista Rafael Correa é o candidato da Alianza Pais e conta com o apoio do presidente venezuelano Hugo Chavez. O outro é a liderança indígena Luis Macas, da organização Pachakutik, que recebe o apoio do presidente boliviano Evo Morales. Por fim, o ex-socialista Leon Roldós, da aliança RED-ID, também mantém proximidade com este campo, apesar de adotar atualmente uma linha mais próxima da social-democracia. Apesar desta divisão, as últimas pesquisas apontam que a esquerda será responsável pela principal surpresa do primeiro turno presidencial, com a liderança de Rafael Correa.


 


A direita deve levar o outro candidato ao segundo turno, o mega-empresário Álvaro Noboa. Ainda correm por fora, com menos chances a única candidata mulher entre os 13 que disputam a presidência, a jornalista Cíntia Viteri, do PSC e o próprio Leon Roldós. Se forem confirmadas as previsões das pesquisas, o segundo turno deverá ser bastante polarizado ideologicamente. Enquanto Correa defende a nacionalização dos recursos naturais e a realização de uma Assembléia Constituinte de caráter social e popular, Noboa pretende atrair investimentos estrangeiros com incentivos fiscais e nem quer ouvir falar da elaboração de uma nova Constituição.


 


A principal divisão da esquerda equatoriana ocorreu antes do início do processo eleitoral quando diversos movimentos indígenas, sociais e partidos de esquerda tentavam articular uma candidatura única. As duas principais lideranças eram o economista Rafael Correa, mais identificado com as Ongs e a Igreja Católica e Luis Macas, presidente da CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador), que é a maior organização indígena do Equador. Havia a expectativa que o processo equatoriano acompanhasse o fenômeno político da Bolívia, onde a candidatura Evo Morales aglutinou a maior parte da base social e ganhou em primeiro turno.


 


Ocorreram articulações para formar uma aliança encabeçada por Correa e Macas como candidato a vice, porém o braço político do movimento indígena, a organização Pachakutik não aceitou. Então, as lideranças indígenas decidiram pelo lançamento de Macas como candidato próprio a presidência, porém sua candidatura não decolou. As previsões das pesquisas indicam que terminará o primeiro turno com votação abaixo de 5%. O candidato não conseguiu articular o apoio de outras organizações sociais e até entre o movimento indígena foi perdendo força. Vale ressalvar que os institutos de pesquisa recebem muitas críticas no Equador por terem registrado diferenças muito acima das margens de erro em eleições anteriores.


 


Ao contrário de Macas, a campanha de Correa foi crescen e despontou como a principal surpresa desta eleição ao sair de um patamar de 5% a 6% no início da campanha, para alcançar o primeiro lugar com 26% na última pesquisa Cedatos/Gallup, divulgada em 23 de setembro. Com isto, Correa desbancou os favoritos León Roldos e Cíntia Viteri em uma campanha com muitas reviravoltas. Sua campanha foi aglutinando forças sociais e políticas como o Partido Socialista, que ao início da campanha tinha apenas lançado candidatos parlamentares e não havia se posicionado na disputa presidencial. Outra adesão importante ocorreu com o apoio da Federação Nacional das Organizações Camponesas, Indígenas e Negras (Fenocin), que é uma entidade que vem ganhando maior representatividade entre os movimentos indígenas. A Alianza Pais conseguiu articular também a participação de organizações progressistas reconhecidas internacionalmente como o Ildes do Equador, ligado a social-democracia alemã, e o Jubileo 2000. “A candidatura de Correa ganhou inclusive alguns segmentos do movimento indígena que, estiveram mais próximas nos últimos anos de Macas, como alguns segmentos da própria Conaie”, diz Napoleón Saltos, diretor da Escola de Sociologia da Universidade Central do Equador. O analista aponta que o movimento indígena foi acumulando contradições e divisões internas desde que apoiou Lucio Gutierrez, presidente eleito em 2002 e deposto no início do ano passado.


 


Fonte: Carta Maior