Congresso perde em qualidade com as eleições, diz analista

Independente do perfil ideológico, houve uma perda significativa, em termos de qualidade, na nova composição do Congresso Nacional. A afirmação é do analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Qu

Ele identifica um risco da Câmara perder referências em assuntos importantes como economia e orçamento, citando o caso de dois deputados especialistas nos temas que não conseguiram se reeleger, como Delfim Netto (PP-SP) e Sérgio Miranda (PDT-MG).


 


Antônio Augusto também traça um paralelo entre os que saem e os novos, que podem assumir o papel daqueles que não foram reconduzidos aos cargos. “Na área econômica, Ciro Gomes (PSB-CE) pode cumprir o papel de Delfim”, avalia.


 


Na questão orçamentária, segundo ele, Augusto Carvalho (PPS-DF) pode cumprir o papel que era de Sérgio Miranda. “Mas não na defesa dos trabalhadores, como fazia Miranda”, ressalva. Quem ficará com esse encargo será Flávio Dino (PCdoB-MA), acredita o analista do Diap. Alceu Colares (PDT-RS) e Sérgio Miranda são considerados “uma perda grande na trincheira em defesa dos trabalhadores”.


 


Antônio Augusto também identifica duas grandes perdas na área do direito constitucional com a derrota dos deputados Luis Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Sigmaringa Seixas (PT-DF). E não identifica, de imediato, quem os substituirá nesse setor.


 


Atuação dos novos


 


Na  reforma política, que deve pautar as discussões no Congresso logo no início do próximo mandato, Antônio Augusto aponta como parlamentares influentes os deputados Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Paulo Bornhausen (PFL-SC) e Paulo Renato de Souza (PSDB-SP). “Eu creio que eles vão entrar firme no assunto da reforma política para liderar e fazer avançar a discussão”, afirmou.


 


Além desses, Antônio Augusto identifica outros que podem ter espaço e atuação marcante na próxima legislatura, considerando os critérios de capacidade de articulação e formulação que norteiam a escolha dos mais influentes no Congresso.


 


Ele cita Lídice da Mata (PSB-BA), Sérgio Carneiro (PT-BA) e Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), que já têm experiência parlamentar, além de outros como Humberto Souto (PPS-MG) que foi presidente do Tribunal de Contas da União (TCU); Ana Arraes (PSB-PE), mãe do deputado Eduardo Campos; e  Carlos Wilson (PSB-PE), ex-presidente da Infraero.


 


Do ponto de vista de influência, considerando os critérios de capacidade de articulação e formulação, credibilidade e outros quesitos, Antônio Augusto lamenta a saída de deputados como Agnelo Queiroz, José Roberto Arruda, Thomaz Nôno, Paulo Delgado, Roberto Brand, Roberto Freire, Antônio Carlos Biscaia, Jandira Feghali, Denise Frossard e Alberto Goldman.


 


Oxigênio no Senado


 


No Senado, onde a oposição é maioria, Antônio Augusto avalia como positiva a eleição de Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Renato Casagrande (PSB-ES). “Eles vão dar uma grande contribuição ao Lula, fazendo pontes com setores da oposição, que o PT não tem condições da fazer pela disputa política e com isso, facilitar a governabilidade”, avalia.


 


“E, no caso de vitória de Geraldo Alckmin (nas eleições presidenciais), vão intensificar a oposição”, afirma Antônio Augusto, acrescentando que – de um modo ou de outro – “contribui, vai oxigenar o Senado”.


 


Relação com o executivo


 


A nova composição do Congresso merece avaliação do analista político também com referência ao Executivo. Segundo Antônio Augusto, existem quatro partidos que estão à disposição de qualquer governo, seja Lula ou Alckmin, que são o PMDB, PP, PL e PTB, que representa 180 parlamentares.


 


“Desse ponto de vista, o Alckmin teria base mais ampla do que Lula, porque ele parte do PSDB e PFL, que representam maioria na Casa. No Senado, idem. Lula teria mais dificuldades no senado porque Mercadante está fragilizado”, afirmou.


 


Segundo análise de Antônio Augusto, o conteúdo da agenda do presidente eleito também vai definir a relação entre o novo Congresso e o governo. “A agenda de Lula será menos agressiva, enquanto a de Alckmin será mais dura para com os setores organizados, disse, destacando que “o conteúdo das políticas públicas de Alckmin tem um viés de mercado, com as reformas trabalhistas e previdenciária, o que pode provocar uma resistência da oposição”.


 


Essa resistência grande da esquerda poderia produzir um bloco composto inclusive pelo PDT, PPS e PV, acrescenta Antônio Augusto.


 


Escolha das mesas


 


Para a escolha dos presidentes das duas Casas – Câmara e senado, que deve ocorrer no início da legislatura, o analista político diz que tem uma “leitura própria”. Se o presidente eleito for Lula, segundo ele, a presidência do senado permanece com o PMDB, “porque haverá migração para ele (PMDB)”. Pelo resultado das eleições, o PFL tem bancada majoritária na Casa, o que determinaria a eleição de um pefelista para a presidência no caso de vitória de Alckmin.


 


“Na Câmara, a presidência fica com um dos partidos da base”, garante ele, acrescentando que “se não fosse a questão da cláusula de barreira, o Aldo (Rebelo) poderia ser reconduzido, mas é um assunto pendente”, analisa. Ele aponta outros nomes que poderiam ocupar o cargo, como Arlindo Chinaglia (PT-SP), Ciro Gomes ou Luiza Erundina (PSB-SP).


 


De Brasília
Márcia Xavier