Rio São Francisco agoniza no meio da poluição

Ambientalistas e outros especialistas percorrem o rio, constatam devastação e pedem preservação urgente


    Uma viagem para conhecer mais o Rio São Francisco, admirar sua beleza, constatar as agressões e despertar para a recuperação do leito e das margens. Em barcos e caiaques, 68 ambientalistas, técnicos e profissionais liberais integrantes da expedição científica Águas Claras percorreram, de sexta-feira até domingo, 200 quilômetros, de Três Marias, na região central, a Pirapora, no Norte de Minas.


 


    ''Verificamos que o São Francisco continua bonito, mas nas margens há muito desmatamento. Há também muita poluição causada pelos pescadores de fim de semana, que vão para a beira do rio e não têm preocupação em recolher o seu lixo. O nosso objetivo é chamar a atenção dessas pessoas para que preservem o rio'', disse o paisagista Roberto MacDonald, conhecido como Mac, que organizou a excursão pelo 16º ano consecutivo.


 


    Durante a expedição, o biólogo Patrick Nascimento Valim, do Serviço Autônomo de Águas e Esgoto de Pirapora, recolheu amostras de água em seis pontos do rio, para estudos sobre a presença de metais pesados, apontados como possíveis causadores da mortandade de peixes no Velho Chico. O material será submetido a análises físico-químicas, cujos resultados serão divulgados dentro de 10 dias. Valim conta que, a olho nu, já foi possível notar as mudanças. Segundo ele, na foz do Rio Abaeté foi observada turbidez elevada, com alteração da cor da água, que ficou com tonalidade marrom, conseqüência da mineração e do assoreamento.


 


    A expedição saiu de Três Marias na sexta-feira, às 11h, de frente da sede da Colônia dos Pescadores, onde foi celebrada missa. A 10 quilômetros do ponto de partida, os barqueiros e caiaqueiros enfrentaram o obstáculo mais difícil da viagem: a passagem da Cachoeira Grande, formação rochosa dentro do rio. No local, dois barcos quebraram e foram rebocados. No primeiro dia, o grupo viajou 80 quilômetros até as 18h30, quando chegou à Barra do Rio de Janeiro, em Lassance, e montou o primeiro acampamento de barracas para o pernoite. No sábado, foram percorridos 60 quilômetros até o segundo acampamento, no meio do Velho Chico – a Ilha dos Prazeres –, em Várzea da Palma. Na volta para casa, a turma saiu às 7h e chegou a Pirapora à tarde.


 


    ''Estamos provocando uma agitação ambiental. É preciso que outras pessoas se mobilizem para despertar os órgãos ambientais e livrar o Velho Chico da devastação. Resta apenas um fio de mata ciliar, sendo que a lei obriga a preservação de 500 metros nas margens do rio'', afirmou o advogado Ghiaroni Rios, morador de Betim, na Grande BH, integrante de uma ONG que luta pela preservação da represa Várzea da Flores.


 


    Participante da expedição pela terceira vez, o professor de geografia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Cássio Alexandre da Silva ressaltou que ''a fiscalização deixa muito a desejar. Acredito que esta expedição vai contribuir para alertar as autoridades e impedir que o Velho Chico continue agonizando''.


 


Desafio do espinhaço


 


    Os moradores de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a 292 quilômetros de Belo Horizonte, fizeram festa na tarde de sábado, no Mercado Velho, no Centro Histórico, para receber os integrantes da expedição Desafio do Espinhaço. Durante 22 dias, o geógrafo Herbert Pardini, o biólogo Marcelo Vasconcelos, o fotógrafo Marcelo Andrê, o ilustrador e montanhista Paulo Henrique Leite de Souza ''Fiote'' e o jornalista Bruno Costa e Silva caminharam quase 500 quilômetros, iniciando a jornada em Ouro Preto. A próxima etapa será a elaboração de um relatório técnico mostrando a realidade do trajeto.


 


Fonte: Portal UAI