MST descobre urnas falsas em fazenda de José Janene (PP-PR)

Quatro urnas eletrônicas falsas foram apreendidas na Fazenda Três Jota, de propriedade do deputado federal José Janene (PP-PR). Os equipamentos foram encontrados por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que ocuparam a fazenda

O material foi apreendido pela Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), que aguarda o envio de peritos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para analisar as urnas. Segundo a assessoria do TRE, os equipamentos são simuladores de votação, que serviriam para indicar ao eleitor como votar. Esses equipamentos, adotadas em algumas regiões em 1996, foram proibidos pelo TSE em 1998.


 


A solicitação de perícia, encaminhada pelo presidente do TRE-PR, Clotário de Macedo Portugal Neto, a pedido do juiz eleitoral de Londrina, Mário Azzolini, chegou na tarde desta segunda-feira (25/9) ao TSE. O promotor Sérgio Correia Siqueira soube dos materiais pela imprensa que estava cobrindo a ocupação e encaminhou denúncia à Justiça Eleitoral, que apreendeu as urnas no mesmo dia, com apoio da Polícia Federal.


 


Damasceno conta que a PF pediu autorização aos sem-terra para entrar na fazenda. “Nossa tarefa foi denunciar, pela imprensa. Apurar é com a justiça”, diz José Damasceno, da coordenação estadual do MST.  De acordo com o oficial de justiça que acompanhou a apreensão, Maurício Teixeira dos Anjos, parte do material de campanha foi apreendido por engano, uma vez que os trabalhadores sem-terra ajudaram no carregamento.


 


Tal material, no entanto, não interessa à Justiça Eleitoral – pois José Janene não concorre nas eleições deste ano. O MST também não pretende acompanhar os desdobramentos do caso, segundo Damasceno. “Para o movimento, só interessa que a área, de 137 hectares, seja destinada à reforma agrária”, garante.


 


Contexto
Localizada no distrito de Guaravera, município de Londrina, oeste paranaense, a Fazenda Três Jota está ocupada por cerca 700 sem-terra desde 15 de setembro. O motivo da ocupação é  denunciar o desvio de dinheiro público por políticos, para o acúmulo de patrimônio e especulação imobiliária, especialmente fazendas.


 


Os trabalhadores ficaram surpresos ao encontrar no local quatro urnas eleitorais falsificadas, cartazes de campanhas políticas, bonés e fitas de vídeos do deputado José Janene. Na sexta-feira (22/9), uma comissão de famílias sem-terra se reuniu com o desembargador José Antonio Vidal Coelho para cobrar da Justiça Eleitoral a investigação das urnas eleitorais apreendidas pela Polícia Federal, na fazenda de Janene.


 


O parlamentar é acusado de ser beneficiário de R$ 4,1 milhões sacados pelo seu assessor, João Cláudio Genu, das contas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. O deputado é réu em 13 ações civis públicas na Justiça paranaense. Suas empresas declararam rendimento zero à Receita Federal antes da eleição para deputado em 2002.


 


Porém, entre 2003 e 2004, ele e sua mulher, Stael Fernanda, se tornaram proprietários de 10 fazendas no Paraná. Outros imóveis e uma frota de carros importados avaliados em cerca de R$ 7 milhões também foram adquiridos. Há 11 inquéritos e uma ação penal contra o parlamentar no STF (Supremo Tribunal Federal).


 


Os bens de Janene, de sua mulher e de dois assessores (Meheidin Jenani, primo do parlamentar e Rosa Alice Valente) foram bloqueados pela Justiça pela 2ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba. Na Câmara dos Deputados, o parlamentar sofre um processo de cassação, que deve ir ao plenário apenas no próximo ano. Além disso, o deputado está tentando se aposentar por invalidez.