Agnelo Queiroz: mea culpa e luta

Por Ana Maria Campos e Lilian Tahan
Da Equipe do Correio


 


O ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz (PCdoB) faz uma espécie de mea-culpa pelas dificuldades que a esquerda enfrenta na corrida pelos votos nestas eleições. Candidato

Apesar das dificuldades, o comunista afirma que a esquerda teve o mérito da união, enquanto o grupo do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB) segue rachado. De corpo e alma na campanha ao Senado, Agnelo lamenta não ter mais tempo e recursos para se apresentar ao eleitor. Ele acredita que se tiver condições de mostrar a cada cidadão suas propostas, poderá vencer a eleição que já tem um favorito, Roriz, com 60% das intenções de votos, segundo pesquisa CB-Data. “O perfil do meu adversário é voltado ao Executivo” critica. “A passagem dele no Congresso foi um desastre completo, um zero à esquerda.”


 


Em entrevista ao Correio, Agnelo também afirma considerar difícil que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso seja reeleito, aceite uma indicação do PMDB para que Roriz se torne ministro. Diz que o peemedebista sempre foi avesso a Lula e sustenta que o Distrito Federal precisa de um senador aliado do Palácio do Planalto.


 


Como o senhor avalia a sua participação na campanha?
Minha campanha está crescendo muito, se desenvolvendo. Percebo isso com muita força na rua, com a receptividade grande das pessoas. Quanto mais conhecem minha candidatura, mais eu cresço.


 


Alguns candidatos prometem o que não podem cumprir no Congresso. Como o senhor avalia isso?
A falta de debate na campanha ao Senado deixa que cada um faça apenas a sua própria propaganda. Não há confronto de idéias. Meu principal adversário, por exemplo, só mostra as obras que fez. Só que senador não faz obras. É preciso esclarecer a população.


 


Esclarecer o quê?
O perfil do meu adversário é voltado ao Executivo. Isso todo mundo sabe. Ele nunca pediu segredo de que não gosta do Parlamento. A passagem dele no Congresso foi um desastre completo, um zero à esquerda. Não teve participação nenhuma na tribuna, nem em comissão, nem de relatar, aprovar e apresentar projetos. Eu tenho 16 anos de mandato. Já dá para notar se eu fui um bom parlamentar. Tenho proposições aprovadas. Fui coordenador da bancada de Brasília, fiscalizei o Orçamento e fiz disso a marca do meu mandato. Tenho experiências no plano federal e também tenho boas relações com o Executivo, para conseguir recursos para Brasília.


 


Na corrida ao Senado, as pesquisas indicam uma grande vantagem ao ex-governador e faltam duas semanas para a eleição. O senhor ainda acredita que pode ganhar?
Confio muito na possibilidade de vitória porque Roriz fez um mandato sustentado na propaganda, que não corresponde à realidade. Depois de governar 14 anos, ele está deixando a saúde Num absoluto caos, uma educação numa situação dramática. Falta até papel nas escolas. O transporte é um desastre absoluto. É caro, de péssima qualidade e expõe a população. O desemprego, de 18%, é um dos maiores do país. A segurança pública atinge grau de violência gigantesco. Ele não resolveu isso no Executivo e não vai resolver no Senado.


 


No programa eleitoral, a sua aliada Arlete Sampaio bate no principal adversário dela, José Roberto Arruda. Mas o senhor não tem combatido Roriz na televisão e no rádio…
Tenho procurado fazer uma campanha propositiva, no campo das idéias. A população conhece muito o meu adversário e sabe das qualidades e dos defeitos dele. Recebo uma quantidade enorme de denúncias. De fato, ele é um candidato muito vulnerável nesse sentido. Mas tenho optado pela linha de fazer uma campanha propositiva e de tentar convencer a população de que eu serei muito mais útil para Brasília do que o meu adversário. Tenho mantido o nível, mas estou bastante chateado com o uso da máquina.


 


O ex-governador Roriz está usando a máquina a favor da campanha dele?
Descaradamente. Esse negócio da mobilização para a carreata dele e da Abadia, por meio da Secretaria de Educação, é um absurdo. E ainda usar a Caesb para fazer campanha de forma clara, grosseira, evidente. Fiz uma representação ao TRE contra isso. Acredito que nesta eleição não haverá uso da máquina de forma tão ostensiva como em 2002. Tenho certeza de que a população e o tribunal não vão permitir isso.


 


O senhor acha que Roriz, se eleito, vai se licenciar para que o presidente do PTB, Gim Argello, que é suplente dele, assuma?
Não sei. Sei que o candidato é Roriz. Além de não Ter nenhuma afinidade com o Legislativo, ele também não tem afinidade com o presidente Lula. Ele é o coordenador do (Geraldo) Alckmin em Brasília. É justamente o oposto do meu perfil. Eu também não tenho ônibus luxuoso para me transportar na campanha.


 


Como o senhor estaria na disputa ao Buriti caso tivesse se mantido como candidato?
É difícil dizer porque é uma suposição.


 


Pesquisa do CB-Data mostra que o senhor tem um percentual maior de votos para o Senado do que a Arlete tem para o governo. Isso poderia estar se refletindo na campanha ao GDF, caso o senhor fosse o candidato?
Só a vida poderia mostrar. Lutei muito para ser o candidato (ao governo). Não foi possível. Agora sou candidato ao Senado e estou inteiramente dedicado tanto à minha candidatura quanto à de Arlete.


 


Como estaria o cenário se o senhor tivesse insistido e se lançado ao governo para concorrer contra a Arlete?
Não seria positivo para nós. Seria uma dispersão de forças gigantesca. A nossa divisão seria um desastre para o nosso campo. Estaríamos sem referências. Hoje temos dificuldades, mas temos rumo e um palanque único para o presidente Lula em Brasília.


 


Algumas pessoas no PT acham que o presidente Lula demorou muito para entrar na campanha no DF. O que o senhor acha disso?
A falha foi nossa de Ter demorado a chegar nessa união. Foi um prejuízo grande no processo de montagem de candidaturas. O presidente está ajudando. O comício na Ceilândia teve um grande significado para nossas candidaturas. Nosso crescimento é evidente.


 


De quem foi a falha?
De todos. A gente patinou muito até o último minuto da prorrogação. Agora o mais importante é que, a


despeito da demora, nós conseguimos a unidade. O outro lado não conseguiu. A virtude é maior do que o defeito. Não tenho dúvida de que a unidade vai garantir a minha vitória, a passagem da Arlete ao segundo turno e a vitória do Lula em Brasília no primeiro turno.


 


Como o senhor avalia a postura de Roriz em relação às candidaturas de Arruda e Maria Abadia ao governo?
Ele vem mostrando que não tem posições firmes. Ele vai ao programa da Abadia e declara que ela é a candidata dele. No outro dia, faz atividades com Arruda. Esta é uma posição política dúbia. Tenho certeza de que os próprios aliados da Abadia não têm certeza se ele, de fato, a está defendendo ou não. Passa uma visão de oportunismo, de falta de consistência. Se nem os candidatos da coligação dele confiam nele, quem vai confiar?


 


Nos bastidores, o comentário é de que Roriz não bate em Arruda porque teme que ele apoie a sua candidatura…
Isso só mostra a fragilidade da liderança dele. Mas eles se dividiram. Ninguém no grupo de Arruda tem obrigação de votar em Roriz porque ele tem outra candidatura oficial ao governo.


 


Se houver um segundo turno entre Arruda e Abadia, o senhor fica com quem?
Minha candidata vai para o segundo turno.


 


O PCdoB  terá uma participação maior num eventual segundo governo Lula?
Acho que sim. O partido tem bons quadros, é um aliado importante do governo, tem aliança formal que, inclusive, com a verticalização, engessou o partido. O PCdoB mostrou que pensa nacionalmente. É evidente que, com essas características, o partido terá uma participação maior no segundo mandato do presidente Lula.


 


Existe uma especulação de que Roriz pode ser ministro de Lula por indicação do PMDB, que terá um bom espaço num eventual segundo governo. O que o senhor acha disso?
Não acredito. O comportamento de Roriz sempre foi muito avesso ao presidente Lula. Ele sempre fez oposição e declarou apoio ao Alckmin muito antes de o PMDB decidir se teria ou não candidato à Presidência na convenção. Agora ele é coordenador da campanha do Alckmin. Não há clima para um ministro como esse.


 


E o senhor gostaria de voltar a ser ministro do Esporte?
Quem põe e tira ministro é o presidente. Ninguém pode se colocar.


 


Fonte: Correio Braziliense