Veneza: Prêmio consagra China como grande realidade do cinema

A China se tornou uma grande realidade no mundo do cinema, tanto pelos filmes dirigidos por cineastas locais como por servir também de cenário a várias histórias. É a nova potência audiovisual.

O tradicional Festival de Veneza premiou neste sábado (09/9) o cinema chinês, por meio dos filmes Sanxia haoren, de Jia Zhang-Ke, que ficou com o Leão de Ouro (melhor longa-metragem), e Mabei Shang de Fating, de Liu Jie, dono do prêmio Horizonte. Com isso, a China se tornou uma grande realidade no mundo do cinema, tanto pelos filmes dirigidos por cineastas locais como por servir também de cenário a várias histórias. Só neste ano, o festival apresentou três filmes rodados no país asiático.


 


Autor do filme vitorioso, Zhang-Ke tem 35 anos, é formado em Cinema pela Academia de Pequim e representa o moderno cinema independente chinês. Estreou no longa-metragem, em 1998, com Xiaown. Já havia participado outras duas vezes em Veneza – com Zhantai (Plataforma), em 2000, e Shije (O Mundo), em 2004. O poliglota diretor da Mostra, Marco Müller, entregou o prêmio ao diretor do filme falando em mandarim.


 


Zhang-Ke também participou na seção Horizontes com o documentário Dong, sobre o pintor chinês Liu Xiao-dong. ''Estou orgulhoso de apresentar dois filmes em Veneza, uma cidade que tem tanta água, duas obras que têm a ver com água'', declarou o cineasta. ''Veneza e suas águas ajudam meu trabalho'', brincou, dizendo ser um representante da ''cultura do rio''.


 


Um filme complexo
Seu longa-metragem aclamado, Sanxia haoren, entrou na seleção oficial de última hora e disputou com 22 filmes. ''Os italianos traduziram por L'Anima Buona delle Tre Gole e os americanos por Still Life'', esclarece o crítico Luiz Zanin Oricchio. Ainda não há tradução para o português. É a crônica da vida de uma aldeia surgida – e submersa – durante a construção de uma represa. Aborda a China atual por meio da história de dois personagens: um mineiro que vai a Fingjie em busca de sua ex-mulher para voltar a se casar; e uma enfermeira, que chega à mesma aldeia com o objetivo de recuperar seu marido, ausente de casa por dois anos.


 


Sanxia haoren despontou na mostra competitiva do Festival de Veneza, o mais antigo do mundo, como um ''filme-surpresa'' e não entrava em nenhuma das listas de apostas sobre os longas favoritos. O prêmio foi concedido por um júri presidido pela atriz francesa Catherine Deneuve e composto ainda pelos cineastas Bigas Luna, Cameron Crowe e Park Chan-Wook. Pouquíssimas pessoas viram o filme, já que ele teve uma programação quase clandestina, foi exibido em horários ruins e sem a publicidade de outros longas.


 


Em entrevista coletiva, realizada após o anúncio da conquista do Leão de Ouro, Zhang-Ke expressou ''surpresa''. Pensava que seu filme – que fala sobre as diferenças étnicas e sociais chinesas – não seria compreendido em toda sua complexidade fora do país asiático. ''Meu filme reflete uma realidade que não estamos acostumados a ver nem na China'', disse Zhang-Ke, que disse sentir ''paixão pelo cinema''.


 


Surpresa única
Catherine Deneuve explicou que tinha concedido o prêmio ''porque o filme apresenta tudo aquilo que é apreciável no cinema: a beleza da fotografia, a qualidade da história e a credibilidade dos personagens''. No entanto, esta foi a única surpresa que o júri se permitiu a promover, já que os outros prêmios estiveram em consonância com a opinião da crítica e do público.


 


O Leão de Prata pela melhor direção, entregue ao veterano diretor francês Alain Resnais por Private Fears in Public Places, era previsível, depois de a película ter sido recebida de forma especial e até um pouco paternalista pelos organizadores do festival. O Leão de Prata pela melhor revelação na direção, dado ao cineasta italiano Emmanuele Crialese por Nuovomondo, também era previsível pela magnífica arrecadação do filme.


 


Khadak, de Peter Brosens e Jessica Woodworth, ganhou o prêmio Leão do Futuro, pela melhor estréia. A Copa Volpi, prêmio de melhor interpretação masculina do Festival de Veneza, foi concedido ao ator americano Ben Affleck, protagonista do filme Hollywoodland, de Allen Coulter. Já a Copa Volpi de melhor atriz foi para a inglesa Helen Mirren por sua interpretação em The Queen, de Stephen Frears.