Bolívia em chamas: confronto entre Evo e oposição vai às ruas

O governo de Evo Morales e a oposição boliviana ameaçam levar às ruas a partir desta segunda-feira (04/9) o confronto que travam na Assembléia Constituinte em torno do processo de aprovação de medidas. Evo pediu aos movimentos sociais, indígenas e sindica

O presidente boliviano acusou uma “conspiração” da oposição para fazer fracassar os principais projetos de seu governo. O governo espera que setores populares e militares “se mobilizem” para impedir a vitória golpista. Na última sexta-feira, a oposição se retirou da Assembléia feira, depois que o governo aprovou, em primeira instância, que as decisões sejam aprovadas por maioria simples, em lugar dos dois terços determinados pela atual legislação. Na segunda, a oposição deverá se reunir na cidade de Santa Cruz para analisar a convocação de greves e novos protestos.


 


“Companheiros e companheiras, frente ao que está acontecendo em Sucre (capital constitucional do país e sede da Assembléia), é necessário que todos nos declaremos em estado de emergência”, disse Evo, no sábado, em Huarina, povoado do norte do departamento de La Paz. “Apenas com as Forças Armadas e as mobilizações sociais vamos recuperar todos os recursos naturais, não somente os hidrocarbonetos. A melhor garantia é o povo organizado legitimamente, junto às Forças Armadas”, prosseguiu.


 


A última semana foi marcada por greves, manifestações e bloqueios feitos por movimentos regionais, transportadoras, educadores e outros setores, e foi uma dos mais conturbadas desde que Evo assumiu o poder, em 22 de janeiro. O líder boliviano teve de demitir, na última segunda-feira, o principal executivo da companhia petrolífera estatal YPFB, Jorge Alvarado, acusado de assinar um contrato ilegal.


 


A força da reação burguesa
Pesquisas divulgadas na sexta-feira mostram que a popularidade de Evo, embora ainda alta, caiu de 81% para 61% nos últimos meses. A insistência do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo, em aprovar decisões na Constituinte sem os dois terços fixados pela legislação causou polêmica na sessão de sexta-feira da Constituinte, que resultou na retirada dos três maiores grupos opositores. Na madrugada de sexta, o líder dos constituintes do MAS, Romás Loayza, caiu no fosso do palco do teatro onde ocorrem as deliberações e está em coma.


 


A reação burguesa não intimidou a base governista. “A Assembléia continuará funcionando, mesmo sem a presença dos opositores”, disse o constituinte governista Raúl Prada. Até o momento, a oposição não anunciou uma retirada definitiva. O parlamentar da oposição Guillermo Richter pediu o adiamento da sessão da Constituinte prevista para a segunda-feira, para que se “restabeleça uma linha de diálogo e se desfaça o clima de tensão”.


 


Além dos 18 constituintes do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), outros 60 membros da aliança conservadora Poder Democrático e Social (Podemos) e oito da centrista União Nacional (UN) abandonaram a Assembléia. O MAS tem 137 dos 255 constituintes.