PIB ganha com investimento público, atesta pesquisa do Ipea

Por André Barrocal, da Carta Maior
A capacidade de o investimento público empurrar o crescimento e incentivar o desenvolvimento de um país é uma tese econômica antiga, mas não consensual entre acadêmicos e estudiosos. Uns dizem que investiment

A desavença teórica sugere que talvez não haja uma resposta pronta válida para qualquer situação. O melhor talvez fosse estudar cada país individualmente, em busca de evidências sobre a influência do investimento público no crescimento daquele determinado país. Esse foi o ponto de partida de um trabalho do pesquisador José Oswaldo Cândido Júnior, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele se debruçou sobre dados de Brasil, Argentina e Chile atrás de respostas. Analisou um período suficientemente longo, de 30 anos, entre 1970 e 2000, que permitisse uma conclusão definitiva. E constatou: nos três países, existe, sim, uma influência favorável do investimento público sobre a o nível da riqueza produzida pela atividade econômica, traduzida pelo Produto Interno Bruto (PIB).



“No longo prazo, verifica-se que o investimento público de fato atua no aumento do PIB”, diz Cândido Junior, autor do estudo “Efeitos do investimento público sobre o produto e a produtividade: uma análise empírica”, divulgado nesta segunda-feira (14). “É preciso que haja um incremento dos investimentos públicos, para o Brasil crescer.”



No caso brasileiro, o pesquisador diz que o encolhimento do tamanho do Estado, ao longo do período analisado (1970 a 2000), aumentou a importância do investimento público no crescimento do PIB. Nos anos 70, o Estado era mais ativo, tinha empresas como Telebrás e Vale do Rio Doce. Quando gastava, inibia a iniciativa privada. Com o Estado enxuto pelo neoliberalismo dos anos 90, investimento público e privado se completam – o primeiro anima o segundo. “O Estado era muito forte, ocupava o espaço do investimento privado. Hoje, está mais definido o papel de cada um. O setor público investe em infra-estrutura”, afirma Cândido Júnior.



Outra conclusão do pesquisador é que, para que haja influência positiva entre investimento público e crescimento do PIB, o primeiro deve ser feito com base em critérios de eficiência econômica. Não adianta gastar em obra que sirva só para atender o interesse político de um governante. Para que o PIB ganhe, o investimento precisa privilegiar obras que gerem reflexos positivos na economia. Por exemplo: uma estrada que reduza o custo do transporte de uma mercadoria até um porto que a exportará. “Não basta aumentar o volume dos investimentos. É preciso identificar onde o investimento vai ter retorno”, diz.



Feita a constatação de que o investimento público, no Brasil, provoca crescimento, fica a pergunta: como arrumar recursos para estes gastos? Parece difícil encontrar uma saída, diante da política de arrocho fiscal que destina parte expressiva do orçamento federal ao pagamento de juros a financiadores da dívida pública.



Embora o estudo não discuta maneiras de arranjar dinheiro para elevar os investimentos públicos, Cândido Júnior defende uma tese proposta em um estudo recente de dois colegas do Ipea: poupar os investimentos do arrocho fiscal. “A política fiscal do Brasil é de má-qualidade. Corta investimentos que geram efeitos positivos na economia. Tem de cortar gastos correntes, como pessoal e custeio da “máquina”, diz. “O investimento público já chegou na lona e vai ter de aumentar principalmente se o país quiser crescer”.