Japão pode ser o 1º a importar em massa o etanol brasileiro

Por Bernardo Joffily
A pretensão brasileira de se transformar em potência energética, com base no biocombustível, ganhou um há muito esperado impulso. O Nihon Keizai Shimbun noticiou nesta segunda-feira (14) que o governo japonês planeja

Hoje, o Japão já trabalha com adição de 3%, mas o consumidor pode optar entre a gasolina com ou sem a mistura. A proposta é tornar os 10% de etanol obrigatórios, daí a necessidade de introduzir mudanças no fabrico dos carros, para prevenir a corrosão que a nova mistura poderia provocar.



Consumo igual ao de três Brasis



A iniciativa japonesa visa arrefecer os impactos da escalada no preço mundial do petróleo, e também enfrentar o problema da poluição urbana.  A idéia é produzir etanol no arquipélago, nas ilhas meridionais de Okinawa, onde o clima é propício, mas o etanol made in Japan só conseguiria suprir uma fração da demanda. Hoje o Japão consome 5,6 milhões de barris de petróleo por dia (três vezes o consumo brasileiro) e produz 2% disto.



Se o Japão efetivamente tornar obrigatória a adição de 10% do etanol à gasolina, será criada uma demanda de 6 bilhões de litros. Para se ter uma idéia, em 2005 todas as exportações brasileiras de etanol somaram 2,6 bilhões de litros. E já representaram uma explosiva expansão, pois em 2003 elas tinham sido de modestos 600 milhões de litros.



O papel dos alcooldutos



De olho no mercado que se abrirá para o etano no Japão, a Petrobras negocia com a trading japonesa Mitsui e usineiros uma parceria tripartite para a construção de mais destilarias de etanol. A Mitsui financia os projetos, os usineiros entram com terra e cana, a Petrobras como avalista da produção e fornecedora da logística de exportação.



Os contratos de fornecimento seriam por 20 anos. Os japoneses também se beneficiariam de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) para conseguirem créditos de carbono gerados pelas unidades produtoras, com base no Protocolo de Quioto.



As novas destilarias deverão ser construídas, prioritariamente, na nova fronteira canavieira do Centro-Oeste, em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. São áreas distantes dos portos brasileiros, mas próximas dos alcooldutos projetados pela Petrobras. O primeiro, previsto para entrar em operação 2008, ligará Goiânia (GO) a Paulínia (SP) e ao porto de São Sebastião (SP). O segundo alcoolduto, ainda em fase de estudo de viabilidade, deve ter início em algum ponto no rio Tietê, aproveitando a hidrovia Tietê-Paraná, e seguir também até Paulínia.



Várias reuniões com produtores já foram feitas e ao menos cinco projetos de construção de novas unidades já estariam acertados. Até novembro, todos os projetos serão encaminhados para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que será a mediadora societária para determinar a participação dos usineiros e da Mitsui nas novas unidades.



O mundo descobre o biocombustivel



O Japão pode ter seguidores. Outros grandes importadores de petróleo, como a China, a Coréia do Sul e os próprios Estados Unidos estudam também bio-alternativas para o combustível fóssil. O governo do Brasil, pioneiro na área, estimula a todos e assegura que todos só terão a ganhar com o negócio do biocombustível.



Pode ser. Porém o Brasil tem tudo para ser dos que mais ganharão, pela fartura de terras disponíveis, ensolação e água, aliada à agrotecnologia desenvolvida por instituições como a Embrapa, e ainda a experiência de três décadas com o carro a álcool, que de há muito asimilou os modelos flex. Os EUA, por exemplo, pesquisam a obtenção de etanol a partir do milho — já que apenas o estado da Flórida tem condições climáticas para cultivar cana-de-açúcar. Calcula-se, porém, que para atender à demanda do parque automobilístico americano seria preciso plantar com milho 97% das terras do país…



Com agências