Fundação Nobel vai manter prêmio concedido a ex-oficial nazista

A Fundação Nobel rejeitou nesta terça-feira (15/8) os apelos para revogar o Prêmio Nobel de Literatura concedido em 1999 a Günter Grass. No último final de semana, o escritor alemão confessou que, quando jovem, serviu à Waffen-SS, força de elite nazista d

Segundo Michael Sohlman, diretor da fundação, “as concessões do prêmio são irreversíveis” e não há possibilidade de rever a premiação. “Nunca um prêmio foi retirado”, declarou Sohlman ao jornal Dagens Nyheter. A Fundação Nobel realiza as premiações há 105 anos.


 


A polêmica causada na Alemanha pela confissão de Günter Grass foi tamanha que se cogitou a retirada dos prêmios concedidos ao escritor, inclusive o título de Cidadão Honorário de Gdansk (antiga Danzig, sua cidade natal). Wolfgang Boernsen, democrata-cristão do Parlamento alemão e porta-voz da Cultura, disse na segunda-feira ao jornal Bild que o prêmio deveria ser devolvido voluntariamente.


 


Grass revelou ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung que, aos 17 anos, servira durante alguns meses no corpo de combate das SS nazistas. Até então, as biografias do autor de O Tambor registravam que, durante a Segunda Guerra Mundial, ele havia sido auxiliar de artilharia do Exército alemão.


 


Semelhanças e protestos
Apesar da revelação, as cobranças dirigidas à Fundação Nobel não tiveram efeito. Michael Sohlman lembrou que esse tipo de pressão já aconteceu anteriormente, em casos como o da concessão do Nobel da Paz, em 1994, ao presidente da OLP, Yasser Arafat, e aos políticos israelenses Shimon Peres e Yitzhak Rabin.


 


O diretor da fundação também se referiu ao Nobel da Paz concedido em 1935 a Carl von Ossietzky, que morreu pouco após ser confinado em um campo de concentração nazista. “Hitler se irritou tanto na época que tentou proibir a entrega do prêmio Nobel”, disse.


 


A Academia Sueca de Letras comunicou por intermédio do seu secretário, Horace Engdahl, que não se pronunciará sobre as declarações de Grass. Às vésperas da publicação de sua autobiografia intitulada Peeling Onions – na qual conta sua infância e juventude na cidade portuária báltica de Gdansk -, Grass revela pela primeira vez ter entrado nas SS aos 17 anos, embora tenha insistido em que nunca fez um disparo durante os meses em que permaneceu na força.


 


“Um membro das Waffen-SS não pode ser cidadão de uma cidade polonesa, e sobretudo de Gdansk, onde a Segunda Guerra começou”, protestou na segunda-feira Jacek Kurski, membro do Parlamento de Gdansk, confiante de que os gêmeos Kaczynski, que ocupam os cargos de presidente e primeiro-ministro da Polônia, suspenderão o título de cidadão honorário concedido a Grass.


 


Esquerdista de longa data e pacifista influente, o escritor de 78 anos, que é mais conhecido no exterior por seu romance O Tambor, de 1959, até hoje só tinha reconhecido ter sido recrutado na força aérea alemã.