Lisandro Otero: O suposto complô de Londres e o terrorismo de Estado impune

Em Londres as autoridades prenderam 24 pessoas, acusando-as de tramar um suposto atentado que derrubaria dez aviões de transporte de passageiros em pleno vôo no meio do Atlântico. Segundo os agentes britânicos, as agressões seriam perpetradas com o uso

De imediato foi paralisado o aeroporto de Heathrow e milhares de pessoas aglomeraram-se na confusão e no desconcerto nos salões daquele terminal aéreo, impedidos de prosseguir suas rotas. Foram dadas instruções de proibir o embarque com bagagens de mão. As emissoras de televisão do mundo ocidental converteram-se num vespeiro de correspondentes excitados, locutores nervosos, mesas redondas e painéis que incitavam, com ambigüidades e tergiversações, o ódio contra o Islã. As primeiras páginas dos jornais foram invadidas por um alarme nervoso que estimulava o pavor e pressionava pela adoção de medidas extremas.


 


O primeiro beneficiado com esta emergência é o governo Bush, que sempre insistiu no suposto perigo do terrorismo a fim de reforçar sua política agressiva no Oriente Médio. Pouco depois o estólido presidente americano apareceu nas telas de televisão com uma expressão que parecia dizer: “Estão vendo? Eu tinha razão, o perigo existe”. E a seguir soltou uma catarata de temores, com os quais justifica os milhares de jovens americanos lançados à morte e a pulverização da população civil iraquiana.


 


Esse “perigo terrorista” é o que serviu para Bush implantar o Patriot Act, com o qual violou os direitos constitucionais e as liberdades civis, ampliando as possibilidades de rusgas ilegais, supervisão telefônica, prisão sem habeas corpus, julgamentos militares por delitos civis, investigações de expedientes bancários, médicos, psiquiátricos e estudantis, gravações telefônicas, pesquisas pela Internet e encarceramento por suspeitas — além de eliminar os fundos para os programas de educação dos pobres e suprimir o treinamento profissional de milhares de novos professores. Um verdadeiro catálogo de medidas draconianas empregadas pelo totalitarismo nazi-fascista, monstruosidades que justificou com o fantasma da chantagem terrorista.


 


Contudo, quando alguém analisa a imprensa ocidental não detecta esse mesmo nível de alarme pelo genocídio sistemático que os verdugos judeus cometiam no Líbano. Ali lançaram milhares de toneladas de bombas, assassinando crianças, anciãos e mulheres inermes. As hordas israelenses exterminavam de maneira sistemática todo um povo sem que ninguém se preocupe em levantar um estado de opinião contrário à carniçaria que os selvagens de Tel Aviv perpetravam sem obstáculos.


 


No Iraque arderam as cidades de Bagdá, Faluja, Nasiria, Kerbala, al Kut e Sula, pelo fogo contra um povo sublevado perante a iniqüidade da ocupação ianque.


 


O volume desta rebeldia é superior ao atingido pelo próprio exército iraquiano durante a campanha inicial de resistência. Os sofrimentos daquela população torturada não suscitaram nos meios de comunicação de massa a mesma preocupação deste suposto complô de Londres.


 


Caberia conjecturar se na realidade existiu uma conspiração, que calha tão bem para o binômio Bush-Blair a fim de perseverar na sua política de aniquilamento dos povos árabes, ou se se trata de outro embuste como o das armas de destruição em massa. Até agora não apresentaram provas daquilo que asseveram os esbirros policiais do império. Só umas poucas garrafinhas, que poderiam conter limonada, foram apresentadas na telinha.


 


O imaginário complô de Londres provocou no ocidente um nível de reprovação que não é o mesmo daquele atingido pela barbárie israelense. Ou seja, dá-se a entender que o terrorismo de estado não é preocupante nem merece ser sancionado. De acordo com o código de valores com que nos anestesia a imprensa ocidental, as ações de resistência individual são dignas de recusa mas o terrorismo de estado não.


 


O original encontra-se em http://www.defensahumanidad.cult.cu/artic.php?item=793


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