Livros sobre Iraque pintam o desempenho deprimente dos EUA

Com títulos como Fiasco e O Fim do Iraque, os livros mais recentes a serem lançados sobre a guerra do Iraque são leituras deprimentes para norte-americanos. Mesmo um autor que apóia a administração dos EUA compara a guerra a um casamento

Fiasco: The American Military Adventure in Iraq (Fiasco: A Aventura Militar Americana no Iraque), de Thomas E. Ricks, chegou na semana passada ao topo da lista do jornal The New York Times de livros de não-ficção mais vendidos. O livro afirma que não houve plano para o pós-invasão e documenta erros sérios na estratégia militar dos EUA.


 


“Não é um livro de minhas opiniões”, disse Ricks, que é correspondente sênior do jornal The Washington Post no Pentágono. De acordo com ele, o livro é baseado em várias entrevistas com oficiais militares e autoridades americanas, além de milhares de documentos.


 


O jornalista argumenta que uma coordenação civil-militar deficiente, o envio de tropas insuficientes e a não-adoção de uma estratégia contra-insurgência imediatamente após a invasão provocaram muitos dos problemas atuais do Iraque, incluindo casos de abusos cometidos por militares americanos.


 


Bing West, secretário-assistente de Defesa na administração Reagan e autor de dois livros sobre o Iraque, disse que Ricks “fez um ótimo trabalho de detalhar a guerra até o presente momento”. West, que é ex-marine, disse: “O que gosto é que ele dá nome aos bois e identifica suas fontes.”


 


Sobre as reações ouvidas a seu livro até agora, Ricks disse: “Duvido que o gabinete de Rumsfeld (o secretário da Defesa) esteja contente, mas muitos militares tiveram uma reação muito calorosa. Um comandante de batalhão no Iraque me escreveu dizendo 'obrigado por escrever o que temos comentado reservadamente”'.


 


O fim da espereança
Igualmente perturbador é The End of Iraq: How American Incompetence Created a War Without End (O fim do Iraque: como a incompetência americana criou uma guerra sem fim), de Peter W. Galbraith, ex-embaixador americano na Croácia e assessor dos aliados curdos de Washington no Iraque


 


Ele afirma que a invasão americana jogou por terra a esperança de um país unificado de sunitas, xiitas e curdos e pede a partilha do Iraque. Descrevendo as ambições grandiosas dos Estados Unidos para o Oriente Médio como fracasso, ele afirma que o Iraque “está mergulhado numa guerra civil catastrófica”.


 


Outro livro importante sobre a guerra lançado recentemente é do americano Fouad Ajami, professor de estudos do Oriente Médio que já aconselhou a Bush e seus assessores mais próximos. Ajami disse que o objetivo de seu livro, The Foreigner's Gift (A dádiva do estrangeiro), é lançar luz sobre o Iraque e sua população, desde um ponto de vista árabe.


 


O autor escreve sobre encontros com figuras iraquianas de destaque, como o grão aiatolá Ali al Sistani, um clérigo recluso que exerce influência enorme entre os xiitas, que são maioria no Iraque. Ajami argumenta que os problemas atuais do Iraque se devem à recusa dos sunitas em ceder poder aos xiitas.


 


Acadêmico que trabalhou para o ex-vice de Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, na Universidade Johns Hopkins, Ajami, que é xiita e nasceu no Líbano, se diz “um dos muito poucos amigos” da administração Bush no mundo acadêmico americano. No entanto, também ele pinta um retrato desolador do Iraque e da guerra. “Foi um casamento forçado”, disse ele.


 


“Entramos num país que não conhecíamos, numa região que não compreendíamos. Uma das perguntas que assombra esta guerra é 'se eles soubessem na época o que sabem hoje… Se soubessem quais seriam as baixas, em termos de sangue e tesouro, teriam puxado o gatilho? Não sei a resposta.”


 


Obituário da guerra?
Wade Zirkle, ex-marine que fundou um grupo chamado “Veteranos pela Liberdade”, para oferecer “uma perspectiva de veteranos favoráveis à missão”, disse que é desencorajador ver um livro intitulado Fiasco. “Parece que as pessoas já estão redigindo o obituário desta guerra”, disse ela. “Na minha opinião, ela ainda pode ser ganha.”


 


Ricks concorda que ainda há lugar para alguma esperança. “Creio que ainda há uma chance pequena de fazer a situação virar no Iraque. Essa foi uma das razões pelas quais dei um título provocativo a meu livro.”