Abuso de Poder, cárcere privado e megaexploração no Wal-Mart

Promotores, repositores e demonstradores de merchandising são constantemente vítimas de constrangimentos no Wal-Mart, cujos gerentes “obrigam” esses profissionais, que não são funcionários da multinacional, a trabalharem nos horários e ocupações estipulad

“L” por exemplo é funcionário de uma empresa terceirizada, mas promove, demonstra e repõe os produtos de uma multinacional de higiene e limpeza e na prática cumpre a maior parte do expediente em outra multinacional, o Wal-Mart. Apesar de receber da terceirizada, os gerentes das lojas do Wal-Mart onde ele atua tentam impor horários que extrapolam a jornada estabelecida e exigem que o trabalhador execute tarefas que são de responsabilidade do supermercado e não do promotor.



A Wal-Mart, uma multinacional americana, é conhecida nos EUA pelos processos de exploração e opressão dos trabalhadores. Em 2004, comprou no Brasil a rede de supermercados Bom Preço, antes propriedade do grupo holandês Ahold. E passou a aplicar nas 118 unidades, concentradas principalmente no Nordeste, os métodos que a celebrizaram.



Sem permissão do genrente ninguém sai da loja



O compromisso dos promotores é de duas horas de trabalho em cada loja, no entanto, são literalmente obrigados a trabalhar o número de horas que o supermercado determinar, cerceando o direito de ir e vir do trabalhador e o desempenho de suas funções em outros locais.



Um promotor só pode deixar a loja com autorização assinada pelo gerente do super ou hipermercado, que não é seu chefe, mas faz tudo para utilizar seu trabalho como mão-de-obra barata ou escrava. Sem autorização do gerente, ninguém pode sair da loja, mesmo que seja aguardado para trabalhar em outro supermercado, explica Francisco Vidal Coelho (Tim Maia), diretor do SindProDem (Sindicato dos Trabalhadores Promotores, Repositores e Demonstradores de Merchandising do Estado de SP).



“Essa atitude do Wal-Mart configura cárcere privado”, descreve Valeir Ertle, tesoureiro da Contracs/CUT e bacharel em direito.



Punição para os “rebeldes”



Quando um promotor, repositor e/ou demonstrador nega-se a cumprir a jornada absurda determinada pelo supermercado, que não é seu contratante, ou nega-se a desempenhar funções diferentes das suas, ele é expulso da loja onde isso aconteceu e impedido de entrar nas outras lojas da rede. O que representa um passo para a demissão.



No Wal-Mart de Osasco (Grande São Paulo), por exemplo, o gerente de mercearia, só permite que promotores, repositores e demonstradores saiam do supermercado para realizar seu trabalho em outras lojas, com autorização por escrito, o que só acontece depois do trabalhador ser exaustivamente explorado pelo Wal-Mart em horários que extrapolam a jornada e em funções que competem ao Wal-Mart suprir e não aos promotores.



A prática em Osasco gerou inúmeras denúncias ao SindProDem que encaminhou denúncia ao Ministério Público do Trabalho para fiscalizar e coibir os abusos.
“Dialogamos com o gerente de mercearia, informando da ilegalidade de sua ação, no entanto, os problemas continuaram e agora estamos acionando e aguardando o Ministério Público agir para garantir as condições de trabalho dos promotores, repositores e demonstradores em todos os Wal-Marts”, comenta Francisco Vidal.



A filosofia do grupo Wal-Mart



Faz parte da filosofia do grupo Wal-Mart tentar impor seu ideal de altíssimo lucro com base na exploração máxima dos trabalhadores. Mas, felizmente, algumas populações não aceitam as imposições do grupo, como aconteceu na Alemanha e na Coréia do Sul, locais em que o Wal-Mart desistiu de atuar e teve grandes prejuízos, destaca Lucilene Binsfeld, presidente da Contracs/CUT.



“Precisamos refletir sobre que tipo de empresas queremos em nosso país. Nesse sentido, temos muito a aprender com outros povos, que não aceitam esse tipo de exploração”, encerra Lucilene.